Autismo infantil: o que é e como identificar os sinais?
Será que é autismo? Essa dúvida é bastante comum entre pais e mães de crianças com dificuldade de comunicação, formas particulares de interação ou com alguns tiques e comportamentos repetitivos e restritos.
Esses sinais podem ou não ser sintomas do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Mas como ter certeza?
Neste texto, vamos falar sobre autismo, mas já adiantamos: o diagnóstico precisa ser feito por um médico. O ideal é que seja feito o quanto antes, a fim de permitir melhor acompanhamento do caso. Combinado?
Vamos entender um pouco mais sobre isso?
- O que é o autismo infantil
- Autismo em crianças: quais são os sintomas?
- Os primeiros passos na convivência com uma criança com autismo
O que é o autismo infantil
Autismo é um nome simplificado para se referir ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) – uma condição que modifica como a pessoa lida e se comunica com o mundo ao redor. É um tema amplo, por isso fala-se em “espectro”: são várias nuances, como se fosse um arco-íris.
É o grau desse espectro autista – que pode ir de leve a severo – que indicará o nível de apoio que a criança precisará da família e dos médicos ao longo da vida. E a forma como vocês lidam com isso é a chave da questão. 🗝️💛
A neurocientista Lívia Ciacci explica:
“O Transtorno do Espectro Autista representa um grupo de alterações do neurodesenvolvimento que leva a dificuldades na comunicação e interação social. Isso ocorre principalmente nos aspectos e gestos não verbais da comunicação e em habilidades para desenvolver, manter e entender os relacionamentos interpessoais. Há uma faixa gradativa de sintomas e subtipos com diferentes graus de severidade e um diagnóstico relativamente complexo.”
Pode ser que o autismo infantil venha acompanhado de condições secundárias, como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), distúrbios do sono ou dificuldades motoras.
Leia também: TDAH e hiperatividade infantil: como lidar?
Dessa forma, o cérebro da pessoa autista tem uma configuração diferente, mas não há exames clínicos que possam ser feitos para fazer um diagnóstico. Por isso, é preciso ficar de olho nos comportamentos.
Autismo infantil: quais os sintomas e como identificar
O Miguel era um menino que batia muitas palmas e balançava o corpinho sem parar, sem motivo algum. Enquanto a maioria dos bebês consegue sentar pela primeira vez logo no primeiro semestre de vida, ele se sentou sozinho aos dois anos de idade.
Isso foi associado à sua paralisia cerebral, que foi diagnosticada nos primeiros meses de vida. Mas as manias e crises de choro, de onde vinham?
A mãe e artesã Angelita Feltrin conta: “ele só chorava quando saía de casa (que era onde ele se sentia seguro) e, quando ficava nervoso, batia a cabeça no chão, na parede, onde ele estivesse. Foi aí que a psicóloga começou a desconfiar das mudanças de humor dele. Aos três anos e seis meses, veio o diagnóstico de TEA. Então estava explicado todos os comportamentos... e se machucar era a maneira dele dizer ‘me entenda, eu não quero isso’, era como um pedido de socorro”.
A Angelita não imaginava que seu filho tivesse autismo, mas ela sabia que esses sinais incomuns significavam alguma coisa.
Os sinais geralmente são mais perceptíveis por volta dos 3 anos, mas o TEA pode ser diagnosticado a partir dos 18 meses, de acordo com a neurocientista Lívia.
“Crianças com autismo respondem de forma peculiar aos diferentes estímulos sensoriais, podem ter uma hipersensibilidade ao toque, aversão a certos odores e fixação a estímulos visuais específicos”.
Aqui vão alguns indícios que facilitam o entendimento dos sintomas do transtorno:
Mudanças na interação social
Como sua criança se relaciona com os familiares e coleguinhas? Para pessoas com autismo, os significados dos laços sociais podem ser um tanto confusos. Por exemplo:
- Em bebês, é comum o maior interesse por objetos do que por pessoas, além de uma certa apatia;
- Seu filho vai no colo de todo mundo? A criança autista pode tanto ficar exclusivamente com os cuidadores quanto não diferenciar um colo de outro;
- Não há reciprocidade de sorrisos, toques, abraços…
- A criança não dá muita bola para a presença de outras;
- A criança não demonstra reações a novidades, por isso, crianças com autismo parecem desatentas.
Dificuldade em linguagem e comunicação
A forma de se expressar também é diferente entre as pessoas com autismo. Alguns episódios podem ser:
- Quando amamentados, os bebês com autismo não olham muito nos olhos da mãe;
- Sabe aquela fase de imitar tudo o que você faz? Bater palminha, dar tchauzinho.... crianças com autismo podem dispensar;
- Não respondem a chamados. É supernormal os pais pensarem que se trata de um problema auditivo;
- No autismo infantil, há demora na fala e em tentar formar frases.
Comportamentos e interesses atípicos
Estes sintomas são aqueles que contrastam bastante com as atitudes que uma criança sem autismo teria. Olha só:
- Há interesses restritos e sem finalidade. Pode ser um movimento repetitivo ou apreço a algum tipo único de objeto (isso é chamado de estereotipia);
- Não acompanham brincadeiras criativas. Então não espere que soltem a imaginação tranquilamente, tá bem?
- Gostam de padrões, categorias e organização;
- Podem apresentar seletividade alimentar.
Se você identifica as características acima em sua criança, é importante conversar com um médico neuropediatra ou psiquiatra infantil para avaliar o desenvolvimento dela. Quanto mais cedo, melhor. Ele poderá fazer testes que confirmam ou não o diagnóstico e sugerir a melhor conduta para a família.
Os primeiros passos na convivência com o autismo infantil
Receber o diagnóstico pode ser um baque para alguns pais, por fugir do que foi idealizado para a criança durante a gravidez. É normal e importante acolher esse sentimento. Isso ajuda a fortalecer a família para uma nova jornada – diferente da sonhada, mas tão especial quanto.
Para ajudar, reunimos algumas dicas sobre como agir com empatia com a criança:
- Tenha paciência e lembre-se: quem tem autismo não compreende todos os sinais sociais, mesmo os que parecem óbvios para você. Então, facilite a comunicação: encurte as frases, use figuras, cores e formas com didática.
- É bacana você mostrar interesse pelo universo da criança: mostre o que você acha legal naquilo que ela gosta.
- Também é muito importante contar com uma rede de apoio, busque por grupos para trocar experiências e converse com outros pais e mães que passam pelo mesmo que você.
Além dessas dicas, a Angelita compartilhou com a gente algumas dicas que ela gostaria de ter recebido antes. Então aqui vai:
- Não se desespere com o diagnóstico, embora seja assustador. Busque ajuda não só para a criança mas para você também. Isso é importante para sabermos como lidar com as situações que vão surgir.
- Ame, dê muito amor, não existe melhor remédio. Não acredite que a pessoa autista não tem sentimentos, que não gostam de carinho. Aprenda como dar esse carinho, cada um sente e reage de um jeito.
- Acredite sempre no potencial do seu filho e não foque no que ele não faz. É claro que ele precisa ser estimulado no que precisa aprender, mas se concentre no que ele é capaz também. Elogie sempre que ele acertar algo, porque ele vai se desenvolver melhor sabendo que está sendo reconhecido.
Desvendando mitos sobre o autismo infantil
O autismo é um mundo próprio da criança e, por mais que pareça ser um cantinho isolado, não passa de outra perspectiva sobre as coisas. Vamos elucidar algumas coisas?
Autismo é doença?
Não. É um transtorno no desenvolvimento do cérebro que afeta a comunicação e a socialização, mas não causa males físicos por si só.
Autismo tem cura?
Não, afinal, não é uma enfermidade. Trata-se de um transtorno do neurodesenvolvimento. 🙂
Autismo é uma deficiência?
No campo da medicina, não é. Mas a esfera da lei, sim, porque as pessoas com autismo estão incluídas no Estatuto das Pessoas Com Deficiência, garantindo a elas uma série de direitos.
Acesse: Estatuto Nacional de Pessoas com Deficiência.
Significa que minha criança não terá autonomia?
Quem dirá são os médicos especialistas. Talvez seu filho precise de acompanhamento com fonoaudiólogo, fisioterapeuta, psicopedagogo e uma série de terapias.
“Com certeza o maior ponto positivo na questão é o fortalecimento dos laços familiares, pois uma família unida aprenderá a respeitar as características particulares desta criança e se surpreenderá com sua evolução!”, comenta Lívia.
Criança autista ou criança com autismo?
A princípio parecem sinônimos, mas existe um debate na comunidade científica e também entre ativistas pela neurodiversidade. Via de regra, quando falamos “criança com autismo” estamos colocando a pessoa antes da sua condição – dizendo que essa característica não a define. O termo normalmente é preferido por pessoas não autistas para falar da condição do outro.
Porém, alguns grupos identitários defendem que a condição não se separa do sujeito – e entendem o autismo como parte constituinte de suas individualidades. Essas pessoas preferem se apresentar como pessoa autista. Também alegam que dizer pessoa com autismo parece algo ruim, e não uma característica como qualquer outra.
A linguagem nunca é neutra. Nesse caso, não existe um consenso. Aqui usamos as duas – considerando que em alguns momentos estamos falando da pessoa, e em outros a condição em si.
Para a Angelita, as duas formas são corretas. “O mais importante é levar em conta as preferências daqueles com a condição. Pergunte como a pessoa gostaria de ser tratada”, explica.
Porém, uma atitude que quem convive com o espectro concorda é: não usar o termo autista para falar de alguém que está apenas distraído com algo. Isso é capacitismo. O autismo é a condição das pessoas com transtorno espectro autista e não deve ser usada para outras situações. Combinado?
Ser mãe e pai de criança com autismo não tem manual de instruções. Aliás, como acontece em qualquer parentalidade, né?
O que importa é exatamente isso que você acabou de fazer: procurar informações de qualidade que te ajudem a conhecer melhor a sua criança e inclusive, a si mesma, para lidar com tudo isso da melhor forma possível.
Seguimos crescendo juntos!
Para ler também: Quais são as fases do desenvolvimento cognitivo?