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Ninhos do Brasil + Carochinha Editora: Ninhos do Brasil se uniu à Carochinha Editora, selecionando histórias que auxiliam nas questões enfrentadas em diferentes fases. Confira!

Limites para crianças: o castigo ajuda ou prejudica?

Flávia Valadares FV
a imagem mostra as mãos de uma mulher adulta segurando as mãos de uma criança

As crianças precisam de limites. Você já ouviu essa frase e também já sentiu na pele essa necessidade, não é? Mas como apresentá-los?

Me diz se acontece com você: quando somos muito firmes, acabamos nos sentindo mal com a gente mesmo. E pior: percebemos que a criança fica ainda mais brava e não muda seu comportamento inadequado ou desafiador.

Já, quando somos muito gentis e permissivos, nos sentimos inadequados e frustrados, porque nem sempre as crianças cooperam quando precisamos.

Então como conseguir a cooperação de nossos filhos enquanto mantemos serenidade e firmeza? A tarefa não é fácil, mas a ideia é abrir alguns caminhos por aqui. Vem comigo?

Firmeza ou autoritarismo?

As crianças testam mesmo os limites, é normal e esperado que comentam algumas travessuras. Por isso, sim: precisamos ser firmes para estabelecer os limites que não podem ser ultrapassados.

Essa postura, sem ser autoritária, só é adquirida através do respeito.

Porém, como conseguir esse respeito? É um desafio, eu sei! Mas vamos pensar juntos: se tratamos a criança de forma respeitosa, a tendência é que ela nos respeite. É uma construção a partir do exemplo.

Quando agimos de maneira firme e respeitosa diante de um comportamento inadequado, desafiador ou agressivo, estamos dando um exemplo de atitude para a criança.  

Mas aqui está o pulo do gato: como agir de forma respeitosa no calor do momento? Sendo firme sem tentar controlar a criança.
Em uma sociedade de iguais, não podemos dominar o outro esperando uma obediência sem resistência; o dedo no olho; o faça agora porque sou maior e eu que mando aqui. Nós lutamos contra isso!

O exercício da democracia e da igualdade dentro de casa

O que estou propondo é que a democracia comece dentro de casa!

Os métodos antigos ou tradicionais partiam de um viés mais autoritário: “faça o que eu digo, mas não o que eu faço”, sem maiores explicações. À criança cabia obedecer para escapar de punições.

Mas a criança é um ser social e humano igual ao adulto. Quando falamos de igualdade, nos referimos a todas as pessoas, independentemente da idade. E todas têm direito ao respeito!

As crianças devem ser estimuladas e encorajadas por nós, os adultos da relação. Nós conhecemos mais do mundo do que eles: precisamos passar segurança, princípios, valores e habilidades.

Existe respeito sem afeto?

Uma orientação gentil, amorosa e respeitosa é a única maneira verdadeiramente eficaz de ajudar uma criança a crescer e desenvolver todo o seu potencial como um adulto amoroso e confiante.

Bater é desnecessário, prejudicial, desrespeitoso e injusto. Vamos parar de fazer isso! A agressão verbal e física é um apelo – e podemos substituir por uma argumentação saudável.

O castigo não combina com relacionamentos amorosos, pelo contrário: cria uma parede infinita entre cuidadores e crianças. Esse muro alto, obscuro, enrijecido e oculto de incompreensão e agressividade deixa ambos os lados tristes e gera muitas consequências.

Ensinar é mostrar e explicar comportamentos futuros desejáveis. Punir é infligir sofrimento ao comportamento passado.

Disciplina e punição são a mesma coisa?

A diferença entre disciplina e punição é mais profunda do que os significados das palavras sugerem. Há também uma diferença em como o cérebro de uma criança reage a eles.

O castigo é uma forma de coerção baseada no medo. A educação por meio do medo e do castigo gera estresse nas crianças.
Além disso, o estresse está associado a uma secreção excessivamente alta de cortisol, que gera muitas repercussões negativas no corpo.

Já a disciplina é um processo de repetição, que leva tempo até ser interiorizada pela criança. Muito mais que um exercício para ela, é um exercício de paciência e empatia para o adulto.

Por que os castigos e as punições são prejudiciais?

As punições estimulam o circuito do estresse e impedem a criança de pensar sobre o que fez. A memória vai registrar apenas o medo e o sentimento de injustiça, ao invés do comportamento a ser evitado que desencadeou a punição.

Veja o que mais os castigos podem gerar:

  • A criança pode se sentir envergonhada e mal consigo, comprometendo seu processo de aprendizagem.
  • Podem atrapalhar a alegria e a criatividade das crianças, resultando no desânimo, na pouca vontade de agir, criar, progredir e trabalhar.
  • As punições prejudicam a relação com o cuidador e  esvaziam o reservatório emocional da criança. Isso pode gerar, no futuro, um comportamento inadequado.
  • Punir uma criança em qualquer nível aumenta a agressividade dela. Pense comigo: se a criança foi ferida, ela vai querer te ferir de volta de alguma forma.

A desobediência faz parte do aprendizado?

Precisamos entender que a desobediência das crianças é um comportamento absolutamente normal! É isso mesmo, você já pode dar aquele suspiro de alívio!

A desobediência é uma parte do processo de desenvolvimento e aprendizagem, no qual aprendemos por tentativa e erro. As crianças experimentam para entenderem o que é considerado aceitável e o que é considerado inaceitável para os adultos.

Você já deve ter ouvido dizer que a criança funciona à base do espelhamento, não é? Imitando comportamentos, reproduzindo falas e por aí vai. Elas observam e absorvem como os adultos ao seu redor respondem uns aos outros em diferentes situações e tentam imitar esse comportamento.

E já vamos combinar uma coisa: uma criança travessa não é uma criança desobediente! Desobediência é um conceito que vem da mãe ou do pai em relação à criança.

É aqui que as percepções entram em jogo. A maneira como seu filho vê o mundo é muito diferente de como você entende a realidade dos fatos.

Para encontrar um meio-termo comum, precisamos construir uma porta de acesso para preencher a lacuna entre essas duas percepções de mundo muito diferentes. Você precisa construir essa ponte entre a visão do adulto e a visão da criança.

E isso só pode ser feito por meio de comunicação. É sobre se comunicar, não é sobre comandar. Quando você comunica suas necessidades ao seu filho com calma, especialmente se isso for feito com antecedência, é muito provável que você consiga uma mudança bem-sucedida no comportamento dele.

Quer ler mais sobre o assunto? Escrevi sobre como construir o respeito na relação entre pais e filhos. Confere lá!

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