Slow parenting: conheça o movimento pela criação “sem pressa”
Calma, mãe! Calma, pai! Essa é uma das mensagens do movimento “Slow Parenting”, ou “Pais sem pressa” na versão brasileira. E às vezes é tudo o que precisamos escutar ou dizer a nós mesmos: calma, respira!
“Quero oferecer ao meu filho todas as oportunidades que não tive na minha infância” – que nunca falou ou pensou assim? Afinal, é o que todos queremos: oportunidades para desenvolver habilidades e potencialidades para um futuro brilhante.
Aí matriculamos as crianças em todas as aulas possíveis: judô, ballet, piano, violão, robótica, inglês, espanhol 📅… ou então sofremos por não ter condições financeiras para tanto, pensando que a nossa criança vai ficar para trás 😔.
A intenção é das melhores, mas precisamos ter calma. Na ansiedade de oferecer aos nossos filhos e filhas todas as oportunidades, podemos estar tirando deles o tempo para a principal delas: a oportunidade de descobrir quem eles realmente são. Vamos conversar sobre isso?
Neste texto, você vai ver:
- Pais sem pressa: o que é o movimento Slow Parenting?
- A importância do tempo livre e do tédio
- Dicas para desacelerar
Pais sem pressa: o que é o movimento Slow Parenting?
Antes que dedos inquisidores das culpas maternas e paternas apontem contra nós, um aviso: o movimento “pais sem pressa” não é sobre pais e mães displicentes. Mas, sim, sobre observação e respeito ao tempo da criança – e também o deles próprios.
Sendo assim, o Slow Parenting é um estilo de parentalidade que busca retomar um pouco da simplicidade da infância, com menos atividades agendadas, competição e cobranças e mais tempo livre para descobertas.
Inspirado no livro “Sob pressão: criança nenhuma merece superpais'', do canadense Carl Honoré, o conceito faz parte da filosofia que prega o desacelerar não só da infância e da parentalidade, mas de tudo. Ou seja: comida, entretenimento, trabalho, aprendizagem, relacionamentos.
Não é necessariamente ser lento, mas sim fazer as coisas no tempo necessário e presente. Ou seja, em vez de acelerar pensando no que vem a seguir, desfrutar cada momento presente.
Segundo o autor, a postura Slow Parenting traz equilíbrio ao lar. “As crianças precisam lutar e se esforçar, sim. Mas isso não significa que a infância deva ser uma corrida. Os ‘pais sem pressa’ dão aos filhos tempo e espaço para explorarem o mundo em seus próprios termos. Eles mantêm a programação da família sob controle, para que todos tenham tempo de descanso suficiente para refletir e simplesmente ficarem juntos!”.
Slow Parenting é um movimento para crianças e adultos – de todas as classes
Esse desacelerar proposto pelo Slow Parenting é importante para as crianças e para os pais – que também estão sob pressão – como se o desempenho do filho nas atividades fosse um atestado da sua própria competência como mãe e pai.
Essa pressão externa cria o que especialistas ouvidos por Honoré chamaram de hiperparentalidade. Ou seja, “superpais e supermães” que, ao conduzir e limpar todos os caminhos para facilitar a jornada das crianças, acabam atrapalhando as descobertas necessárias para o desenvolvimento integral. Esses pais também são chamados de “pais helicóptero”, já que estão sempre pairando sobre a cabeça dos filhos – supervisionando ou direcionando tudo.
Não se trata de criticar o zelo ou de dizer que parem tudo o que estão fazendo. Afinal de contas, poder oferecer atenção e oportunidades é um privilégio para pais e filhos, ainda mais em um mundo em que a ausência parental ainda é um problema ainda mais real que o excesso.
O convite do movimento é para a reflexão – será que estamos (os que podemos) fazendo demais por eles?
Em entrevista divulgada no site do autor, ele comenta: “Sejamos honestos: a maioria dos pais de helicóptero vem da classe média. Mas isso não significa que essa mudança cultural afete apenas os ricos. Quando se trata de mudança social, a classe média costuma dar o tom”, explica.
Dessa forma, assim como temos pais exagerando no zelo e na oferta, acabamos tendo outros que sofrem por não poder oferecer tudo o que imaginam que seja necessário para a formação e felicidade dos filhos.
Além disso, “a hiperpaternidade está corroendo a solidariedade social, porque quanto mais obcecadas as pessoas ficam com seus próprios filhos menos interessadas se tornam no bem-estar de outras pessoas”, finaliza o autor.
Como saber se é hora de desacelerar?
Estamos sempre repetindo e não custa lembrar: cada mãe e cada pai desenvolve seu próprio método de criação e não existe uma receita a ser seguida. Ainda assim, conhecer diferentes linhas ajuda a nos direcionar para aquilo em que acreditamos.
Se você quer ser um pai/mãe “sem pressa” – ou seja, engajado na educação dos filhos, mas sem ser um “helicóptero”, reunimos alguns sinais de que está na hora de aterrissar e desacelerar:
- se a criança reclama de cansaço ou chora para não ir à atividade extra
- se a criança adormece no caminho entre uma atividade e outra
- se vocês precisam sempre comer correndo, para dar tempo para a próxima atividade
- se você não tem tempo sozinho com seu parceiro ou parceira
- se você e seu parceiro ou parceira não têm tempo para estarem juntos com as crianças e conversar sem compromisso
A importância do tempo livre, do ócio e do tédio
Nossos filhos são naturalmente exploradores, tentando descobrir e entender o mundo ao redor. Para isso, eles precisam de tempo para observar, sentir, experimentar.
Observá-los nesses momentos ajudará você a entender do que eles gostam, o que atrai e mantém seu interesse. E a criança terá mais tempo para descobrir quem ela realmente é, para além das expectativas dos pais.
Mesmo que a criança apresente um talento natural para música ou artes plásticas, talvez ela não se interesse em ter aulas direcionadas de violino ou de pintura. Então, controlemos nossas expectativas! Não vamos transformar uma
atividade prazerosa em uma obrigação. Podemos estimular de outras formas, deixando-as livres para experimentar o ócio criativo.
Dicas para desacelerar: os princípios do Slow Parenting
Reunimos aqui alguns princípios do movimento Slow Parenting e dicas para colocar em prática. A dica 6 é a mais difícil, mas a mais transformadora:
- Possibilite espaço e tempo livre para que a criança explore o mundo e seus próprios pensamentos – sem o seu direcionamento. Isso é importante para o desenvolvimento emocional delas.
- O ideal é que esse tempo livre não seja consumido apenas pela televisão, que não promove a interação e a criatividade.
- Zele pela segurança, mas deixe a criança descobrir pequenos “riscos” sozinha: saber que a chuva molha, que sair sem casaco deixa com frio, que eventualmente a gente cai etc...
- Não tentar intermediar ou controlar todas as atividades ou interações do seu filho. Se ele tiver um problema com um amiguinho da escola, confie na capacidade dele e dos educadores em administrar a questão.
- No tempo junto, priorize qualidade em vez do número de atividades. Converse com a criança sobre o que fizeram ao longo do dia, o que sentiram, o que foi legal, o que foi chato, sobre o sabor do que estão comendo, sobre como foi feito. Escute suas hipóteses antes de dar resposta.
- A dica mais importante do slow parenting: olhar para nós mesmos. Para educar sem pressa – e sem pressão – é importante observarmos nosso próprio ritmo de vida e também as nossas expectativas. Uma reflexão inicial é tão complexa quanto importante. Pergunte a você mesmo: “O que eu desejo para o meu filho tem mais a ver com ele ou comigo? Será que estou projetando meus sonhos, desejos e frustrações na criança?”
E quando a falta de tempo é nossa? 😬
Muitas vezes, a agenda sobrecarregada dos pequenos é justamente para compensar a nossa ausência como pai e como mãe. Passamos muitas vezes mais de dez horas por dia envolvidos no trabalho e buscamos preencher essas horas para as crianças com aquilo que gostaríamos que elas fizessem.
Se for impossível para você reduzir esse ritmo, converse com quem fica com seu filho e com os educadores da escola sobre a importância de brincar/explorar livremente. E, sempre que conseguir estar junto, concentre-se para ser um momento de amor, escuta e conexão, sem tantas metas.
Sua criança não consegue brincar sozinha e aproveitar os momentos de “tédio?” Quer conversar sobre o assunto? Comente o tópico na nossa Rede de Carinho.