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A criança não come? Entenda o transtorno alimentar seletivo

Elaine de Pádua EP
Menina se recusa a comer. Ela está escorada na mesa com a cabeça baixa e braços cruzados. À frente dela tem um prato de comida e um copo.

“Doutora, meu filho não come” ou “minha filha só aceita comer tal alimento”. Eis algumas queixas ouvidas com muita frequência por nutricionistas e pediatras na prática clínica.

Essa seletividade alimentar é uma preocupação pertinente. Afinal, sabemos que um dos princípios de uma alimentação saudável é ter uma alimentação variada.

Além disso, ao ampliar seu repertório de alimentos, a criança aflora seu lado emocional, pois o mundo dos sabores é uma fonte permanente de surpresa e prazer.

Mas por que algumas crianças não aceitam determinados alimentos? Como melhorar essa relação com a comida? Neste texto, vamos analisar como se dá o processo de escolhas alimentares, o fenômeno da seletividade e verificar como é possível reverter esse tipo de comportamento.

Quando a criança apresenta aversão a um alimento

Quando a criança tem aversão a um alimento, o adulto deve ficar atento.

A aversão pode surgir a partir de duas situações: 1) a mais comum é aquela em que a criança, devido a uma contaminação ou virose, vomita o alimento recém-ingerido. Isso faz com que o cérebro registre aquela lembrança como algo perigoso, e a criança passa a rejeitar o alimento. 2) a criança pode desenvolver essa aversão devido à associação com algum evento emocionalmente negativo: ou seja, a criança ficou de castigo por não querer comer, ou até mesmo apanhou dos pais, sendo sistematicamente forçada a comer o alimento que havia negado a princípio.

É possível que, com o passar do tempo, a aversão ao alimento seja revista. Isso acontece quando a criança, o jovem ou o adulto experimenta novamente, provavelmente com novas formas de preparo.

“Não provei e não gostei” – a importância da familiaridade com os alimentos

Com o aumento da autonomia da criança, outro fenômeno começa a aparecer: a rejeição a um novo alimento sem ao menos experimentá-lo. Vejamos como isso acontece.

Sabe-se que a criança aceita melhor os alimentos que lhe sejam familiares. Quando a criança rejeita o alimento novo, chamamos de neofobia, ou seja, medo do novo.

Esse é um dos grandes dilemas enfrentados por mães e educadores em berçários e pré-escolas. A criança diz que não gosta do alimento (mesmo sem provar) e a pessoa acaba aceitando, passando a não oferecer mais.

Ou então a criança apenas experimenta um pouquinho e, ao não reconhecer o sabor, acaba deixando boa parte da quantidade servida inicialmente. Frente a isso, a leitura do adulto é: a criança não gosta deste alimento – não adianta continuar oferecendo.

Isso é muito comum com verduras e legumes, pois são alimentos com sabor mais neutro, não saciam como os alimentos ricos em gorduras ou proteínas e geralmente têm um gosto menos acentuado que carnes ou frituras.

Pesquisadores conseguiram, no entanto, encontrar a chave para quebrar esse dilema. Verificou-se que, para que uma criança de 2 a 4 anos possa adquirir o gosto pelo alimento e consumi-lo em quantidade suficiente, ela precisa experimentar o alimento de 8 a 10 vezes! Assim, aos poucos, a criança se acostuma com o novo sabor. Para as crianças com 4 anos ou mais, talvez tenhamos que oferecer ainda mais vezes (10 a 15) para termos o mesmo efeito.

Nem sempre é fácil: uma fruta de época pode ser oferecida, a criança apreciá-la, mas, até ela estar na época de safra, e então disponível a menor custo, a criança esqueceu seu gosto e passa a dizer “eu não gosto desta fruta...”.

Por isso, mamãe, papai, cuidadores, não desistam! Esse é um processo que exige tolerância, mas também persistência e firmeza.

E, claro, se depois de oferecer muitas vezes um alimento em diferentes apresentações, a criança ainda assim não aceitá-lo, talvez ela não goste mesmo. Tudo bem! Nesse caso, o importante é verificar se ela come outros alimentos do mesmo grupo e se está com a alimentação equilibrada nutricionalmente.

Leia também: o ABC das vitaminas e os grupos alimentares

Recusa alimentar, neofobia ou seletividade?

O fato de a criança não querer fazer certa refeição difere da neofobia, que, por sua vez, também difere da seletividade alimentar. Vamos entender cada um desses fenômenos?

A recusa em se alimentar pode ocorrer por ocasião de uma doença ou infecção na criança, que em geral recobra seu apetite após a melhora.

Ainda assim, uma das causas mais frequentes da recusa alimentar é o que chamamos de “alimentação desordenada”.

Isso acontece quando a criança come sem levar em conta o que seria o ideal para ela comer no momento.

Se a criança come a qualquer hora o que está ao seu alcance – como bolachas, balas e chocolates, por exemplo – isso resulta na perda do apetite na hora da refeição.

A neofobia é o medo do alimento desconhecido ou novo, não familiar, e acontece quando a criança não é exposta ao alimento com frequência.

Já a seletividade alimentar é a recusa persistente em consumir alimentos que são familiares. Muitas vezes as duas coisas estão relacionadas. Se uma criança tem uma neofobia muito forte, provavelmente ela será bastante seletiva. Já se, dos 2 aos 7 anos, ela foi exposta a uma grande variedade de alimentos e foi incentivada a comê-los, provavelmente, terá menos chance de ser seletiva. Algumas vezes, essa seletividade pode ser apenas um reflexo da dificuldade do adulto em preparar uma alimentação saudável, com uma maior quantidade de vegetais, por exemplo, ou como um espelho dos hábitos alimentares da família. As estratégias utilizadas para reverter a neofobia também são válidas para a criança seletiva.

As causas da seletividade alimentar

As razões desse comportamento são bastante complexas e podem variar de acordo com a faixa etária e com o contexto familiar e social.

Como apontou um estudo recente, em alguns casos, a queixa “meu filho não come” pode estar mais relacionada ao sentimento do adulto responsável do que ao comportamento da criança em si – é impossível apontar com precisão o que vem antes nessa equação.

A seletividade alimentar é muito comum a partir dos dois anos de idade, por ser um momento no qual a criança passa a desenvolver maior autonomia e maturidade muscular, explorando o espaço antes fora de seu alcance. Se até então a alimentação era a principal fonte de prazer, com as novas descobertas, ela passa a ser um plano secundário.

Embora também possa ocorrer em crianças com desenvolvimento cognitivo típico, a seletividade alimentar é ainda mais comum em crianças com transtornos do espectro autista (TEA) – devido a comportamentos repetitivos, a dificuldades sensoriais e ao apego à rotina. Nesses casos, é indicado ter um acompanhamento com pediatra ou neurologista infantil. Combinado?

Resgatando o prazer das descobertas alimentares

Inovar na cozinha e envolver as crianças é uma dica para espantar a monotonia e aumentar a aceitação dos alimentos.

Dessa forma, vale fazer uma avaliação do cardápio que costuma ser apresentado à criança. Que tal variar os ingredientes, utilizando equivalentes do mesmo grupo alimentar? Mudar as formas de preparo, os temperos e a apresentação também são formas de estimular a criança seletiva a consumir outros alimentos.

O ambiente das refeições também conta muito. Ele deve ser descontraído, amistoso, com uma atmosfera calma, permeada por uma boa conversa e pelo olhar cúmplice dos pais.

A criança não deve ser ameaçada, se não consegue comer quando chorosa, triste ou com medo. Quem consegue? Por outro lado, a frequente utilização de subterfúgios, como “olha o aviãozinho”, também não é recomendável. Essas brincadeiras desviam a atenção e comprometem a percepção dos alimentos.

A forma mais indicada é deixar que a criança se alimente por si, manipulando os alimentos, sem se preocupar com as “boas maneiras” durante as refeições. Em síntese, ambiente calmo e pais relaxados promovem a autoconfiança da criança, que obtém o prazer natural em alimentar-se.

A educação nutricional é a conduta preventiva da seletividade alimentar da criança, que ajuda a desenvolver atitudes adequadas em relação ao alimento, considerando aspectos cognitivos, emocionais e comportamentais.

Rever hábitos alimentares, padrões de comportamentos relacionados a compra, preparo e oferta de alimentos no ambiente familiar pode ser um importante começo para a construção de melhores práticas relacionadas à alimentação.

É um desafio que vale ser enfrentado, pois se reverte em saúde, felicidade e maior harmonia familiar.

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