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12 perguntas para refletir sobre a criação antimachista

Beto Bigatti BB
Pai abraçando seu filho no colo

Fazia frio como sempre faz em julho aqui no sul. Estávamos na frente da lareira (muitas casas têm lareira por aqui) e meu filho se machucou com a tesoura que usava para fazer alguns recortes em um papel. Chorou. Natural para os seus 4 anos de idade.

Mas o que me marcou nesse episódio, ocorrido há mais de dez anos, foi seu espanto ao escutar pela primeira vez o avô decretar: “para com isso, menino não chora”.

Intervi imediatamente e tranquilizei meu filho, que agora não sei se chorava pela dor do corte ou pela confusão gerada pela fala do avô tão amado. Disse-lhe que menino chora, sim, que ele poderia ficar tranquilo em relação a isso e pedi para ver o machucado.

Você sabe que este é apenas um exemplo dentre centenas que tiram dos meninos (e dos homens) a capacidade de SENTIR. É o início de um caminho azedo: um homem que não se permite o afeto acaba, lá na frente, por ser um pai limitado. Reproduz a escassez. 

Este é um dos grandes desafios de um pai: criar meninos (e meninas) não machistas, apesar de ter sido educado em um meio intrinsecamente machista. Ou seja, fazer diferente daquilo que nos foi ensinado desde o berço. Quase como apagar tatuagem da pele. É desafiador, mas tem como.

Engana-se quem identifica o machismo apenas em xingamentos ou frases preconceituosas. 

As ações são determinantes: quando um pai permanece sentado à mesa aguardando ser servido enquanto as mulheres da família cozinham, botam e tiram a mesa, está demonstrando que este é o papel do homem. Exemplo na linha do pai provedor. Lembram? Da época mesozoica da parentalidade.

Mesmo em 2022, ainda vemos cenas como estas. Homens ganham mais do que mulheres ocupando as mesmas posições, em entrevistas de emprego ter filhos é um diferencial negativo para as mulheres, enquanto aos homens nem se faz essa pergunta.

Na parentalidade, mulheres ainda criam seus filhos sozinhas, porque seus parceiros deram no pé. As reuniões da escola e os grupos de WhatsApp ainda são, de longe, dominados por mulheres. Parece que homens não têm a capacidade de aprender sequer o nome da professora de seu filho. 

Há chance de você ter reconhecido alguém nesses exemplos, não é mesmo?

Como criar um filho antimachista?

Existe uma série de estratégias para educar um menino sem seguir esta onda machista. Porém, não há segredo. A mudança começa com o pai. Um pai machista repetirá aquilo que escutou de seu pai, que aprendeu com seu avô e assim, décadas afora...

É vez de dar um basta no machismo

Você e eu precisamos quebrar essa corrente para nos reeducarmos e criarmos meninos melhores para um mundo. Não tem escapatória. Você não educa um filho não machista repetindo a cartilha que parece ignorar a existência de um mundo com igualdade de gênero.

Permita-se este exercício. Reveja atitudes de discursos sexistas. Separei aqui doze perguntas simples que vão fazer você se questionar. Responda com sinceridade.

  1. Você acaba de fazer um comentário desabonador sobre a roupa de uma mulher. Deixa perguntar: faria o mesmo comentário se fosse para um homem?
  2. Você acredita que, nas tarefas domésticas, existe “coisa de mulher” e “coisa de homem”?
  3. Seu filho menino pode chorar quando se machuca ou se emociona?
  4. Seu filho tem o direito de se emocionar?
  5. Tudo bem se seu filho não gostar de futebol?
  6. Tudo bem se sua filha gostar de futebol?
  7. Você sabe o nome dos professores do seu filho?
  8. Usa frases como “tinha que ser mulher”?
  9. Já disse para seu filho que isso é “coisa de mulherzinha.”?
  10. Consegue se reconhecer machista, mesmo que em pequenas atitudes?
  11. Você se aborrece porque não pode mais fazer piadas que antes podia?
  12. Defende que o feminismo é a antítese do machismo?

Não fiz uma escala de resultados. Não importa quantos sins ou nãos você respondeu. O que eu quero aqui é plantar a semente da igualdade de gênero aí em você. Gostaria que ficasse a reflexão. 

Por onde começar a criação antimachista?

Não há um guia definitivo de como criar meninos e meninas antimachistas, mas eu começaria por permitir que escolhas sejam feitas independentemente do gênero do seu filho. Azul ou rosa, boneca ou bola, médico ou enfermeira, chorar ou não. 

Não há razão alguma para tudo virar uma questão de gênero na infância das nossas crianças. Simplesmente porque o gênero não deveria importar. Deixar sua criança brincar com o que a diverte não deveria ameaçar os pais.

Seu filho brincar de boneca deveria ser tão natural quanto sua filha brincar de espada. 
Nossos filhos nascem sem esse olhar dicotômico. Sem preconceitos. Sem limitações. Somos você e eu que fazemos este estrago. Percebe? Eles nascem antimachistas por natureza.

Mais uma vez, a responsabilidade é nossa. Escute. Respeite. Demonstre. Seja exemplo de igualdade dentro da sua casa. Lembre-se: nossas crianças nos observam o tempo todo. E copiam nossos melhores e piores comportamentos. 

Permita-se abrir seu olhar para um mundo diferente daquele que sempre permeou suas vivências.

Sim, é substancialmente mais simples educar um filho idêntico a nós. É desafiador nos depararmos com crianças que não seguem nossa cartilha. Mas você acredita mesmo que está tudo bem quando nossos filhos são agredidos com frases tipo: “engole esse choro”, “isso é coisa de mulherzinha” e “seja homem”?

Que tipo de pai nos transformamos quando passamos a acreditar nestas sentenças condenatórias e podamos o que há de mais humano em nós, o SENTIR?

O homem sente. Vibra. Chora. Crianças antimachistas precisam urgentemente de exemplos coerentes. Sejamos a diferença para uma nova geração. Sejamos os pais que se permitiram sentir e que usaram o afeto como base de uma nova paternidade. 

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