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Ninhos do Brasil + Carochinha Editora: Ninhos do Brasil se uniu à Carochinha Editora, selecionando histórias que auxiliam nas questões enfrentadas em diferentes fases. Confira!

Depressão infantil? Pensei que isso fosse problema de adultos

Ninhos do Brasil NB
Para ilustrar a depressão infantil na foto, mãe consola a filha, que está sentada, com expressão triste, em cima da cama.

O diagnóstico de depressão infantil chegou para a família de Laura, 6 anos de idade, em novembro de 2020, após três meses de avaliação neuropsicológica.

"Eu percebia que tinha alguma coisa estranha com a minha filha. Nada justificava aquela tristeza, aquele desinteresse. Mas, quando o médico falou em depressão, foi um susto”, conta Luana Paula Barbosa, mãe da menina.

A família de Laura não está sozinha. O número de casos de depressão em crianças entre 6 e 12 anos de idade aumentou de 4,5% para 8% em uma década, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). E tendem a se agravar ainda mais após esse longo período de isolamento social😔.

A pesquisa Jovens na Pandemia, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), identificou sintomas de ansiedade ou depressão infantil em 26% das mais de 8,5 mil crianças e adolescentes, de 5 a 17 anos, ouvidas entre abril e setembro de 2020, em plena quarentena. Leia mais sobre a saúde mental das crianças na pandemia aqui.

Antes do diagnóstico, os sintomas da depressão infantil

Luana levou a filha Laura ao pediatra, ao neuropediatra e ao neuropsicólogo com as mesmas queixas. A menina tinha muita dificuldade de interação, timidez excessiva, tristeza aparente, muito choro, cansaço, dificuldade para comer e para dormir. Além disso, faltava interesse por atividades como brincar, desenhar e colorir, coisas que ela gostava quando era mais nova.

Hoje Luana percebe que os primeiros sinais da depressão infantil apareceram antes mesmo da pandemia. Apesar de ser calma na escolinha, Laura não interagia, chorava muito e tinha muitas crises de dor de barriga e vômito.

“Na época levamos a vários médicos, mas os exames não apontavam nada. Falaram que poderia ser psicológico, mas, como as crises passaram com a medicação para enjoo, acabamos não investigando”, lembra a mãe.

Com a pandemia, os enjoos voltaram e a tristeza e o desinteresse chamaram a atenção da mãe. “Ela sentia fraqueza e formigamento e vomitava. Também chorava muito. Mesmo sem ouvir o noticiário em casa, ela dizia que tinha medo que eu e o pai morrêssemos por causa do coronavírus”.

Os sintomas da depressão infantil podem ser diferentes da depressão de adultos

A tristeza e desânimo que Laura apresentava se assemelham aos sintomas de depressão de adultos, mas esse não é o quadro mais comum.

Segundo a Associação Americana de Ansiedade e Depressão (ADAA), os sintomas mais frequentes na depressão infantil são a irritabilidade e/ou raiva, o que leva muitas famílias a confundirem o transtorno com malcriação ou birra.

Porém, a lista de sintomas a observar é grande:

  • irritabilidade/raiva
  • diminuição da vontade de brincar e de fazer atividades que antes eram prazerosas
  • dificuldade de concentração
  • queixas de dores, desconfortos e inquietações
  • alterações de sono (aumento ou diminuição)
  • alterações de apetite e de peso (aumento ou diminuição)
  • cansaço excessivo
  • comentários que indicam pessimismo e baixa autoestima (eu não sei fazer nada, ninguém gosta de mim, não sirvo pra nada etc.)
  • falas ou desenhos associados à morte ou a despedidas
  • falas sobre vontade de desaparecer

Nem todos os sintomas precisam aparecer. A persistência de um deles, todos os dias, ao longo de pelo menos duas semanas, já serve de sinal de alerta.

Leia também: Ansiedade infantil: como identificar e ajudar a criança

Luana percebeu o alerta e, apesar de a família dizer que era coisa de criança e do momento da pandemia, decidiu buscar ajuda profissional. Levou a filha a pediatra, neuropediatra e, depois de três meses de avaliação com a neuropsicóloga, teve o diagnóstico confirmado: depressão infantil.

“Depressão? Mas ela não passou por nenhum trauma. Aqui em casa é um lugar de paz”

Depois do susto, Luana conta que sentiu vergonha. “No início, eu só contei para as pessoas mais próximas. Tinha receio de que pensassem coisas como ‘por que essa menina tem depressão?’, ‘o que acontece nessa casa?’ ‘o que aconteceu com ela?’”.

Hoje mais tranquila, ela, como mãe e estudante de psicanálise, acha importante falar abertamente sobre o tema.

Ninguém está imune à depressão – nem mesmo as crianças. Ela pode afetar qualquer pessoa. As causas envolvem fatores biológicos, psicológicos e sociais, que precisam ser avaliados caso a caso.

O quadro depressivo pode se manifestar em crianças após eventos traumáticos, como separação dos pais, morte de uma pessoa querida ou animal de estimação, mudança de colégio etc. A própria pandemia, o medo da doença e o afastamento dos amigos podem gerar gatilho para a depressão.

Entretanto, segundo aponta a ADDA, a chance de desenvolver o distúrbio é maior quando há casos na família. E também quando a criança tem outras condições médicas crônicas ou graves.

No caso da menina Laura, o diagnóstico da depressão veio associado ao de déficit de atenção, uma das características do TDAH. “Além disso, a carga genética parece ter sido bem decisiva, pois há mais casos na família”, relata a mãe, que também decidiu fazer terapia.

Importante: a maior predisposição genética não significa que a criança ou adolescente vá, necessariamente, desenvolver depressão.

É só uma fase? Precisa mesmo tratar a depressão infantil?

É comum e de certa forma até esperado que as crianças sejam afetadas por acontecimentos externos. O que vai diferenciar a depressão infantil das tristezas do dia a dia é a intensidade, a persistência e as mudanças em hábitos normais das atividades da criança.

Pode até ser uma fase, mas, quando os sintomas se prolongam por mais de duas semanas, é importante buscar uma orientação psicológica para entender o caso individual. Como fez Luana.

A escuta atenta e o tratamento adequado ajudam a evitar o agravamento dos casos na adolescência e na vida adulta. Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) verificou que 75% dos transtornos mentais na vida adulta têm origem na infância.

“Ela voltou a cantar!” – Como a terapia e a mudança de rotina estão ajudando Laura

Após alguns meses de terapia com a neuropsicóloga, a mãe se emocionou ao flagrar a filha cantarolando. “Era uma coisa que ela gostava quando era pequena, mas depois parou, criou uma repulsa. Não cantava de jeito nenhum. Se a gente cantasse, ela pedia pra gente parar. Foi uma coisa que melhorou agora durante o tratamento. Agora ela canta como um passarinho”, conta Luana, emocionada.

Laura vai à terapia uma vez por semana. Além disso, a família mudou a rotina e alguns hábitos em casa. “Foi um conjunto de ações: alimentação, atividade física, e rotina de sono. À noite, lemos uma historinha calma antes de dormir, e ela adora.”, conta a mãe.

Veja também: Conheça os 7 benefícios da leitura antes de dormir

Laura ainda está em tratamento. Quando superada a depressão infantil, será mais fácil avaliar os sintomas do TDAH e como tratar esse lado. Uma coisa de cada vez. A expectativa agora é pelo retorno das aulas presenciais (a entrevista foi feita no mês de julho). A Laura está ansiosa para voltar.

Acho que meu filho ou filha está com depressão. Como ajudar?

Acredite: a criança não está fazendo birra ou se mantendo apática para chamar a atenção. Pelo menos não de maneira premeditada.

Se você identificou alguma das alterações descritas neste texto, não ignore sua percepção. A Sociedade Goiana de Pediatria dá algumas sugestões para ajudar os pais a lidarem com problemas emocionais das crianças durante a pandemia:

  • Valide o sentimento que a criança demonstra.
  • Deixe a criança à vontade para falar o que está incomodando, sem julgamento.
  • Mantenha a rotina da casa, os horários de sono, de despertar, de alimentação, de obrigações e de lazer.
  • Incentive o contato com os amigos por meios seguros.
  • Regule o tempo de tela e de uso de eletrônicos, tentando não ultrapassar a quantidade de horas recomendadas.
  • Observe o comportamento, identificando os sinais de alerta
  • Demonstre empatia, lembre-se das vezes que você se sentiu assim.
  • Incentive valores familiares.
  • Programe atividades para fazerem juntos.
  • Procure ajuda especializada para entender, confirmar ou descartar o diagnóstico.

Luana reforça o rol das dicas: “escute seu filho e não desista de procurar ajuda.” Pode ser difícil e cansativo, mas é possível. “A gente conseguiu tratamentos pelo convênio médico, depois de muita luta”, conta. Pelo SUS, é preciso insistir por consultas no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial).

Além dessas opções, existem universidades públicas e privadas, profissionais independentes e projetos sociais que oferecem atendimento psicológico por valor social ou até mesmo gratuitamente. Veja onde encontrar aqui.

O apoio da família é indispensável para o bem-estar das crianças e adolescentes. Ajudá-los a lidar com questões emocionais e enfrentar problemas na infância ajudará a formar pessoas mais resilientes e prontas para o futuro.

Quer saber mais sobre este tema? Então confira o texto Inteligência emocional: como desenvolver desde pequeno?

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