Fonoaudiologia infantil: quando buscar apoio de um fonoaudiólogo?
A fonoaudiologia infantil vai muito além do acompanhamento de casos de atraso de fala. Especialistas em comunicação humana, esses profissionais podem ajudar em diferentes tipos de dificuldade de expressão: desde problemas motores ou neurológicos até os psicológicos.
Aliás, os fonoaudiólogos atuam em diferentes momentos da vida: da primeira infância até a velhice. Mas aqui focaremos na infância.
Na nossa jornada de crescimento, um processo muito importante que tem tudo a ver com linguagem e comunicação é a alfabetização. E também nisso a fonoaudiologia infantil exerce um papel fundamental: ela ajuda a associar fonemas a símbolos gráficos (letras).
A fonoaudióloga infantil Fernanda Suárez, especialista em Linguagem Com Enfoque nas Alterações de Linguagem e em Aprendizagem e atuação Educacional, nos ajudará a explicar mais sobre o tema.
O que é fonoaudiologia infantil?
“A fonoaudiologia infantil é responsável pela reabilitação da comunicação, audição, linguagem falada e escrita, leitura e articulação da fala da criança", explica Fernanda.
Segundo o Conselho Federal de Fonoaudiologia, “o campo de ação da fonoaudiologia envolve o desenvolvimento, as dificuldades e o aperfeiçoamento das habilidades comunicativas.
Isso inclui, além da linguagem, funções como sucção, mastigação e deglutição, sistemas de comunicação alternativos, aumentativos ou suplementares, entre outros”.
O trabalho do fonoaudiólogo começa ainda na maternidade, onde fazem o teste da linguinha e da orelhinha. Ambos são indolores e ajudam a diagnosticar e intervir precocemente em problemas da cavidade oral (língua, bochechas, céu da boca) e na audição do recém nascido.
Quando procurar fonoaudiologia infantil?
A gente confessa: achamos voz de criança com trocas de letras e sílabas uma das coisas mais fofas do universo. Tanto que usamos no vídeo de divulgação do nosso portal. Algumas ficam tão engraçadinhas que a vontade é não corrigir nunca e até propor a mudança de dicionários para incorporar as novas formas de falar.
Além de fofura, as trocas fazem parte do aprendizado da linguagem - mas quando persistem no tempo podem indicar a necessidade de uma investigação mais profunda.
Mas quando procurar ajuda de um fonoaudiólogo infantil? Como é a consulta e o acompanhamento fonoaudiológico? Quais são os benefícios para a criança? Vamos saber um pouco mais sobre isso?
O fonoaudiólogo infantil pode ser requisitado em diferentes momentos da infância.
Fonoaudiologia para bebês
O profissional pode ajudar bebês recém-nascidos, ajustando a pega durante a amamentação, por exemplo. Ou pode avaliar eventuais dificuldades de bebês mais crescidos na deglutição de alimentos.
Fernanda comenta sobre os primeiros sinais de que a linguagem dos bebês está se desenvolvendo: “eles devem olhar nos olhos, reagir a um sorriso, acompanhar com o olhar enquanto uma pessoa se aproxima e tentar se comunicar através de balbucios”.
Fonoaudiologia para crianças com atraso de linguagem ou dificuldade de comunicação
“Com 1 ano, a criança já repete a mesma sílaba diversas vezes, imita gestos como mandar beijo e dar tchau. Com 18 meses, seu vocabulário aumenta a cada dia, chegando a 50 palavras, e ela já obedece ordens simples acompanhadas de gestos como "vem cá". A partir dos 24 meses, ela já fala frases simples”, acrescenta a fonoaudióloga.
O acompanhamento da fonoaudiologia infantil é fundamental para o aprimoramento da comunicação de crianças com síndrome de down, com transtorno do espectro autista (TEA) e para crianças com dificuldades de linguagem em geral.
Crianças a partir dos 2 anos de idade, que ainda não formam pequenas frases ou palavras, podem ser avaliadas e estimuladas com apoio da fonoaudiologia infantil. Nesse caso, não apenas a linguagem, mas outros aspectos são avaliados pelo profissional, como a comunicação.
Como saber se meu filho tem problema de fala?
Fernanda lista alguns sinais que podem indicar que é hora de procurar por um profissional de fonoaudiologia infantil. Fique atento caso a criança:
- prefira fixar o olhar em alvos muito estimulantes ou mais em objetos do que em pessoas;
- faça cada vez menos contato visual;
- não sorria ou sorria pouco para familiares e pessoas de convívio próximo;
- não responda ou responda pouco ao ouvir o próprio nome;
- tenha pouca resposta a estímulos;
- não imite o que vê à sua volta;
- utilize poucos gestos comunicativos, e os gestos que realiza não são para se comunicar;
- apresente irritabilidade ou respostas sensoriais atípicas, sendo muito sensível ou muito insensível a sons, texturas e luzes;
- tenha dificuldade em brincar de faz de conta;
- apresente falta de interesse em brincar com outras crianças ou falta de empatia;
- tenha reações pouco previsíveis aos estímulos e interesses restritos.
Leia também o relato de uma mãe que buscou ajuda na fonoaudiologia para o filho de 2 anos: “Só eu e meu marido entendíamos o que nosso filho queria dizer”
Fonoaudiologia infantil para idade pré-escolar
Sua criança está quase indo para o primeiro ano e ainda troca letras? O R pelo L, como o Cebolinha? Ou outras trocas comuns na infância como V por F, D por T, P por B, X por J ou S por Z? Esse é um bom momento para consultar um fonoaudiólogo infantil. Vale conversar com o pediatra para pedir o encaminhamento.
Nesse sentido, por volta dos 4 anos de idade, é esperado que a criança já pronuncie corretamente todos os fonemas, mesmo os difíceis encontros consonantais como pr, cl, lh, entre outros.
Se até os 5 anos a criança ainda troca letras, é importante ficar atento, porque isso pode prejudicar a comunicação e a compreensão das outras pessoas, além de afetar a autoestima da criança.
Além disso, confundir fonemas pode atrapalhar o aprendizado da escrita, que ocorre a partir de como a criança escuta e pronuncia as palavras.
Fonoaudióloga na escola? Presente!
Dentre as diversas áreas que o fonoaudiólogo pode atuar, existe a especialização na fonoaudiologia educacional - seja no apoio a escolas, seja no atendimento clínico de estudantes com dificuldades.
O fonoaudiólogo educacional faz a triagem auditiva de crianças pré-escolares e escolares para identificar possíveis alterações auditivas que possam prejudicar o desenvolvimento da linguagem, da fala e da escrita.
Quando são encontradas alterações na audição, os profissionais orientam a equipe de educadores e a família. Juntos, os profissionais definem métodos de inclusão para lidar com as dificuldades e discutem a necessidade de aparelhos auditivos e de acompanhamento fonoaudiológico.
O que faz uma fonoaudióloga infantil?
Na primeira consulta com fonoaudiólogo infantil, costuma-se fazer uma anamnese: ou seja, uma entrevista com os pais da criança sobre o histórico dela e da família.
“Nessa primeira avaliação, observamos se a criança apresenta os pré-requisitos para a fala. Ainda nessa consulta, já orientamos os pais sobre como podem estimular essa criança em casa. Nas próximas consultas, fazemos as avaliações de linguagem receptiva e expressiva, entre outras avaliações do desenvolvimento da criança”, diz Fernanda.
O profissional também pode solicitar exames, como a audiometria, para avaliar a audição da criança. Algumas, apesar de escutarem tudo, podem ter dificuldades com sons graves ou agudos, por exemplo. Ou escutarem em intensidade diferente em cada ouvido.
As consultas normalmente são divertidas para as crianças. É comum que alguns pais questionem: “mas como assim? eles só fazem brincadeiras!”. Porém, é brincando que fonoaudiólogos conseguem induzir e estimular a pronúncia correta das palavras, fortalecer a musculatura oral e já começar a fazer a associação com os elementos gráficos (letras).
Dependendo da idade e do problema de comunicação a ser tratado, algumas crianças podem ter um caderno próprio para as sessões e lições de casa para fazer junto com a família. Mas não se assuste: as tarefas de casa também têm um lado lúdico bem forte, como músicas, poesias e trava-línguas.
Quanto tempo dura o tratamento de fonoaudiologia infantil?
O tempo de acompanhamento fonoaudiológico varia conforme a criança e a necessidade, variando de meses a anos, com uma ou duas consultas semanais.
Quais são os benefícios da fonoaudiologia infantil?
Aprender a se expressar e se comunicar melhor é o principal benefício da fonoaudiologia infantil. Junto com ele, temos uma série de benefícios adicionais. Quer ver?
- desenvolvimento das habilidades sociais
- controle da respiração e da voz
- maior facilidade na leitura e escrita
- compreensão dos outros
- autoestima na exposição de ideias
5 exercícios de fonoaudiologia infantil para fazer em casa
Mesmo com acompanhamento semanal do profissional de fonoaudiologia infantil, o papel da família na evolução da linguagem da criança é um complemento fundamental. Confira cinco dicas para ajudar:
- Estimule a conversa, puxe assunto. Evite censurar o tempo todo, para não inibir a criança. Mas, ao perceber que a criança pronuncia palavras de forma errada, repita a palavra com a pronúncia correta.
- Brincadeiras com música e ritmo: cante junto com a criança e faça brincadeiras com instrumentos musicais para a compreensão de notas graves e agudas. Outra brincadeira válida é fazer batidas de mãos e pés e convidar a criança a repetir o movimento no ritmo, intercalando também a percepção de intensidade.
- Jogos de palavras parecidas para estimular a atenção ao som. Por exemplo: faca e vaca; tato e dado, corpo e porco, alegria e alergia, camelo e cabelo, gênios e gêmeos, e assim por diante.
- Se perceber que a criança tem dificuldades específicas em algum fonema, convide para um treino diante do espelho. Por exemplo, se o problema for no V, que tal imitar um avião que faz “vvvvvvvv” e na sequência pensar juntos em palavras que tenham esse som? Trava-línguas também são opções muito divertidas para fazer em família!
- Acompanhe a criança nos exercícios indicados pelo fonoaudiólogo, seja servindo de espelho para os movimentos faciais, seja como companhia e estímulo.
Fernanda ainda acrescenta: “É muito importante que os pais e familiares brinquem com a criança. Isso faz toda a diferença.
Converse com seu filho nas atividades cotidianas, como no momento do banho, da alimentação, da troca de fralda... fale com ele o que está fazendo quando estiver junto.
Não fale errado, pois a criança precisa de um modelo correto de fala.
Ensine a seguir instruções, como "pegue a bola", repita palavras novas várias vezes e dê um tempo para a criança responder.
Pergunte o que ela está fazendo, mantenha uma conversa e faça perguntas como: "quem vai entrar no carro?", "o que ela vai comer?'', "por que ele subiu no telhado?". Permita que ela crie histórias e entre na história também.
Fazendo assim, você estará contribuindo para o desenvolvimento da linguagem do seu filho de uma maneira prazerosa e eficiente”.
Algumas vezes, as dificuldades de aprendizagem podem não estar relacionadas diretamente à comunicação. A psicopedagoga Monique Gonçalves fala sobre as dificuldades mais comuns aqui: