Nutrição e maternidade real: meu relato como mãe nutricionista
Eu, que sou uma mãe nutricionista, já cansei de ouvir tendências e informações sobre a alimentação saudável na infância, e imagino que você também.
O quanto é fundamental garantir todos os nutrientes para o perfeito crescimento e desenvolvimento da sua criança, comer frutas, legumes e verduras, hidratação, composição adequada das refeições, quantidades ideais, os malefícios dos alimentos ricos em açúcares, corantes e aromatizantes…ufa!
São inúmeras as orientações do que devemos ou não fazer para proporcionar saúde para nossa família.
Isso pode gerar um sentimento de culpa em papais e mamães, pois são muitos obstáculos no dia a dia para conseguir alcançar esse padrão tido como o “mundo ideal”, quando se fala em rotina saudável garantindo a ingestão de todos nutrientes.
Uma mãe nutricionista longe da “maternidade ideal”
Você já ouviu aquela velha frase: “Nasce uma mãe, nasce uma culpa”? Apesar dela ser muito criticada nos dias atuais, quem nunca sentiu na pele a culpa por não conseguir atingir a perfeição desse padrão ideal?
Isso começa muitas vezes antes mesmo do bebê nascer. Questões como estar acima do peso antes da gestação, comer doces na gravidez, não conseguir fazer o parto normal, como amamentar, entre outras demandas da maternidade modelo, podem aterrorizar nossos pensamentos.
A verdade é que somos bombardeadas diversas vezes com excesso de informação sobre esse ideal e recebemos pouco acolhimento sobre o que de fato conseguimos sustentar/bancar, seja pelo emocional, físico ou mental em determinadas fases da vida.
Vivenciei na pele as dificuldades da maternidade ideal. Na minha primeira gestação, tive parto normal e consegui amamentar o Vinícius sem nenhuma dificuldade.
Logo, a minha expectativa (a grande inimiga da felicidade rsrs) era de repetir essa experiência de forma integral. Porém, com meu segundo filho, sofri por não conseguir ter o tão esperado parto normal, pois o Mateus era um bebê pélvico (sentado) e para minha surpresa (se é que posso chamar assim) tive enorme dificuldade com a amamentação.
Sei bem o que é lidar com palpites, dicas infalíveis e macetes de familiares e amigos.
Vivenciei também a falta de apoio e incentivo à amamentação, além de despreparo do profissional que me acompanhava na época, em diagnosticar o motivo dessa dificuldade em amamentar (Mateus tinha frênulo lingual e um simples piquezinho poderia ter solucionado o problema).
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Bem, essa foi a minha experiência real com a maternidade em determinada fase, e compartilhar aqui é uma forma de desabafar e ao mesmo tempo dar a mão a você, sabendo que não estamos sós quando se fala em maternidade ideal e suas expectativas.
E com relação à alimentação, claro que também tive minhas dificuldades. Meu primeiro filho, Vinícius, comia bem desde a introdução alimentar, no entanto naquela época (23 anos atrás), eu esquentava tudo no micro-ondas e nos potes de plástico (imagina hoje meu desespero sabendo que esse material libera bisfenol-A).
Você sabia?
Bisfenol-A é um tipo de resina utilizada na fabricação da maioria dos plásticos. Ao entrar em contato com o organismo, essa substância pode prejudicar o sistema endócrino e modificar o sistema hormonal.
A venda de mamadeiras e outros utensílios para lactantes que contenham bisfenol-A é proibida desde 2012 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Mas eram outros tempos e não vou me culpar agora, certo? O Vinícius também teve intolerância à lactose, que naquela época não foi diagnosticada no início e ele sofreu um bom tempo com os sintomas.
Isso sem falar da orientação que recebi na época: um substituto do leite de vaca (uma opção de soja sabor banana e outra sabor abacaxi! MEU DEUS!), que, além dos aditivos desnecessários, ainda não era uma fórmula adaptada contendo todos os nutrientes adequados à idade dele.
Quando lembro dessa época e tudo o que vivi com o Vini, fica ainda mais evidente para mim o quanto a ciência da nutrição está em constante evolução e hoje felizmente temos melhores opções de alimentos para crianças em diferentes condições, como é o caso dos intolerantes à lactose, por exemplo.
Com o Mateus, meu caçula, hoje com oito aninhos, vivencio diferentes questões, e que costumam ser similares às que angustiam famílias que recebo no consultório com filhos nessa faixa etária.
Uma fase em que eles já têm maior autonomia e, com isso, muitas vezes acesso às guloseimas da cantina escolar, além de almejar a lancheira igual a do amigo que leva biscoito recheado e chocolates... sim, também preciso educá-lo e lidar com essas questões, sem falar das repentinas recusas quando ofereço os verdinhos ou mesmo algum legume que sempre aceitou.
Não tem como negar que, por ser nutricionista materno-infantil, sei como lidar com essas situações. No entanto, não significa que elas não existam e exijam minha atenção e, claro, preocupação.
Puxa, parece que estou aqui só contando situações negativas, né? Mas calma: claro que dentre tantos acontecimentos extraordinários na minha vida, sem dúvida o mais transformador, importante e feliz foi e tem sido a maternidade.
Estudar nutrição sempre foi um sonho, e ao me tornar mãe, principalmente
vivenciando maternidades completamente diferentes, percebi e senti na pele o quanto é difícil ser mãe em uma época em que o excesso de informação e a insegurança caminham juntos.
Por isso, decidi me dedicar a essa profissão linda que é a área materno-infantil. Para poder ajudar tantas famílias preocupadas com a saúde de seus pequenos, por meio de um atendimento sempre baseado na ciência e com acolhimento e carinho.
Trilhando esse caminho da maternidade e da nutrição materno-infantil, percebi a grande dificuldade das famílias em seguir um plano alimentar e concluí que somente a prescrição dietética não muda comportamentos.
Então, mergulhei nos estudos e me apaixonei pelas estratégias que trabalham a melhoria do comportamento alimentar e, com isso, ajudo muitas mamães e papais desde a introdução alimentar com dificuldades com a alimentação, como seletividade alimentar e obesidade infantil.
Tenho o comportamento alimentar como um dos pilares do meu atendimento, visando sempre em proporcionar saúde e bem-estar aliados ao prazer em comer.
Saiba que você, mãe e/ou pai, não está sozinho nessa longa e incrível jornada que é cuidar e educar uma criança.
Às vezes parece que não tem luz no fim do túnel ou que tudo é extremamente difícil, mas estou aqui para te dizer que: tudo passa e tudo melhora. E que eu e outros profissionais da área estamos aqui para te ajudar a tornar esse caminho mais tranquilo e fluido.
Que tal levar as crianças para a cozinha?