Mãe na pandemia: 5 dicas para manter a sua saúde mental
“Trabalhar como se não tivesse filhos e cuidar dos filhos como se não trabalhasse”, esse tem sido o dilema das mães que conseguiram manter seus empregos durante a pandemia.
Além disso, muita culpa: culpa por deixar o(a) filho(a) na TV, por mandar (ou por não mandar) para a escola quando reabre, de expor alguém ao pedir ajuda, de não dar conta do trabalho…. Ufa!
Difícil mesmo. A carga mental em cima das mães durante a pandemia está sendo pesada, e está afetando a saúde mental de muitas de nós. É difícil dar conta de tudo e ter 100% de certeza sobre qualquer decisão.
Mas, depois de mais de um ano de pandemia, algumas mães encontraram formas de equilibrar os pratos e contam, nesta matéria, como estão passando por isso.
Como amenizar o impacto da pandemia na saúde mental das mães
Estima-se que 83,82% das mães sentiram maior sobrecarga em cuidar dos filhos durante a pandemia. Além disso, 25% das mães apresentaram sintomas de depressão, 27% sintomas de ansiedade, 23% sintomas de estresse e 39% sintomas de estresse pós-traumático.
Os números fazem parte dos resultados preliminares da pesquisa “Saúde mental de mulheres com filhos crianças e adolescentes durante a pandemia de covid-19”, conduzida pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Mais de 800 mulheres em todas as regiões do Brasil foram entrevistadas. A média de idade das participantes é de 37 anos, sendo a maioria com entre 1 e 2 filhos com idade inferior a 11 anos.
Conversamos com algumas mães para saber como estavam buscando equilíbrio neste momento e contamos as histórias aqui para, quem sabe, servir de inspiração para outras famílias.
1 - Viver um dia de cada vez e focar na alimentação saudável
Renata Zardin trabalha em um hospital todos os dias enquanto o marido jornalista trabalha em home office e fica com os dois filhos, Morgana (14 anos) e João Pedro (8). Ela, que já havia lidado com outras crises depressivas antes da pandemia, precisou encontrar outras formas de manter a sanidade durante esse novo período.
O maior desafio foi aceitar a imprevisibilidade do momento. Até quando vai essa pandemia? Ninguém sabe. Renata conta que, com algum esforço, conseguiu abrir mão da sua tendência a planejar tudo e passar a viver um dia de cada vez.
“A gente tem focado muito na alimentação saudável, até para fortalecer a imunidade, mas tem dias que eu não estou com cabeça para pensar em jantar. Digo pra eles: a geladeira está cheia, se quiser um sanduíche, eu ajudo. Tem dias que preciso ficar quieta, meditar, ouvir um áudio de relaxamento. Tá sendo isso de viver um dia de cada vez e ver os limites de cada dia. Às vezes consigo fazer várias coisas. Outros dias, preciso me preservar para o dia seguinte”.
2 - Pedir (e aceitar) ajuda
Natalia Beividas é publicitária e mãe do Davi, de 3 anos e 8 meses. Ela e o marido, também publicitário, trabalham muito, mesmo em home office, com reuniões o dia todo. Durante o período em que as escolas ficaram fechadas, mudaram-se para a casa dos pais dela.
“Nós pesamos o que seria melhor para a nossa família. Ficar na nossa casa nos impossibilitaria de ter ajuda, o Davi passaria o dia sozinho e provavelmente na TV. Estando nos avós nós temos ajuda com almoço, jantar, brincadeiras, mas perdemos nossa privacidade como casal. Na balança, resolvemos abrir mão da nossa privacidade pelo bem do Davi”, explica.
3 - Terapia e tempo para si
Autora da marchinha bem-humorada “Mãe na Pandemia”, que viralizou nas redes sociais, Luisa Toller é professora de música em duas escolas e mãe da Antônia, de 1 ano e 8 meses.
Ela conta que o marido é bem participativo, mas que como ela tem o horário de trabalho mais flexível, acaba ficando com a maior parte da carga mental – pensar o que precisa ser feito.
“O que me fez segurar a onda foi a terapia. Eu me preparei muito para ser mãe, pensando em saúde mental, me cuidar, ter meus espaços, com isso, tem rolado bem”, explica.
4 - Música, positividade e apoio da família
Dona da voz que fez a marchinha viralizar, Julia Tizumba é atriz, professora, doutoranda e mãe da Iara, de 5 anos, e da Serena, de 6 meses de idade.
Ela e o marido alternam turnos de trabalho e cuidado com as meninas. e eventualmente contam com o apoio do pai e de uma tia para ficar com a mais velha.
“São dias de luta e dias de glória”, explica com bom humor. Aliás, a música e a positividade são seus instrumentos para levantar a energia. “Quando eu pego o pandeiro, um tambor, a minha energia já melhora, mesmo nessa situação difícil”.
5 - Autocuidado e parceria
Quem também não perdeu o bom humor foi a Naiara Cristina Barbosa, desempregada e mãe de três filhas, Lívia (9 anos), Lauren (6) e Laila (4).
Naiara ensaiava um retorno aos estudos e ao mercado de trabalho quando a pandemia chegou. No meio disso, o apartamento alagou, precisou se mudar, contraiu covid-19 (a forma leve), teve alergias de pele, muito estresse e dores de cabeça.
“Eu precisava fazer alguma coisa pra mim, eu comigo mesma, e me adaptar à nova condição, já que eu não voltaria ao mercado de trabalho”. Como o marido trabalha com tecnologia e acabou tendo um aumento de renda durante a pandemia, o emprego já não era mais urgente.
Naiara resolveu olhar para si: “iniciei com cuidados de skincare facial, depois com caminhadas diárias e exercícios específicos para recuperação abdominal”. Ver os resultados fez bem para ela e influenciou a família a se cuidar mais também.
No meio disso tudo, ainda começou a cursar pedagogia. Como você dá conta? – perguntam os amigos. Ela responde rindo: “eu não dou conta! Quem disse que dou?”
A parceria real com o marido é fundamental, reconhece. “Geralmente eu fico responsável pela organização da casa e das aulas das gurias. A comida e a rotina da noite (banho, jantar, escovar os dentes e colocar para dormir) são com ele (...) A partir da janta temos um momento só nosso de relax, com crianças dormindo e sem barulho”, revela Naiara.
Saiba mais sobre essa parceria e como “Mãe na Pandemia” virou um hit nas redes.
Saúde mental na pandemia: quando buscar ajuda profissional?
As realidades das mulheres brasileiras são muito diferentes entre si. Enquanto muitas perderam seus empregos durante a pandemia, outras batalham para equilibrar os pratos com os cuidados dos filhos e trabalho em home office.
Nem todas conseguem contar com rede de apoio e estão tendo impactos sérios na sua saúde mental.
Lembrando que a saúde mental é mais que a ausência de transtornos ou distúrbios. Nossa saúde mental se relaciona com a forma como reagimos às exigências, desafios e mudanças da vida e como harmonizamos pensamentos e emoções.
Saiba identificar os distúrbios mais comuns:
É importante saber distinguir a preocupação e eventuais momentos de tristeza, coerentes com o momento que estamos vivendo, de sintomas de distúrbios de saúde mental, tanto para adultos quanto para crianças e adolescentes:
Por isso, preparamos um quadro resumindo os principais sintomas. Se você se reconhecer neles, não tenha medo ou vergonha de procurar ajuda, combinado?
Ansiedade
A ansiedade é um distúrbio provocado pela sensação de medo, preocupação extrema que impede ou atrapalham o nosso funcionamento normal. Os sintomas da ansiedade podem ser físicos (como fadiga, suor, falta de ar, respiração rápida, palpitações, boca seca, tremores).
Além disso, a ansiedade provoca falta de concentração, pensamento acelerado, pensamentos trágicos, irritabilidade e inquietação. Isso atrapalha a realização de tarefas cotidianas e também a qualidade do sono, seja com insônia ou pesadelos.
Depressão
A depressão é a sensação persistente de tristeza ou perda de interesse. Entre os sintomas da pessoa depressiva podemos verificar: apatia, culpa, perda de interesse ou prazer nas atividades, vontade de ficar sozinho e choro excessivo.
Além disso, notam-se distúrbios de sono (excessivo ou insônia), baixo nível de energia, redução de autoestima, dificuldade de concentração, lentidão para realizar atividades e pensamentos suicidas ou repetitivos.
Entre os sintomas físicos estão ganho ou perda de peso, fadiga e fome excessiva ou falta de apetite.
Estresse
O estresse é uma resposta do corpo a situações de pressão ou perigo. É como se o corpo se preparasse para lutar ou fugir de algo.
Mais que os sintomas mais comuns, como cansaço e irritação, o estresse pode ter manifestações físicas, como dores de cabeça, problemas na pele, queda de cabelo, ganho ou perda de peso excessivos, ranger de dentes.
Estresse pós-traumático
O estresse pós-traumático é um distúrbio causado pela dificuldade em se recuperar depois de viver ou presenciar um evento traumático. Ele combina sintomas de estresse, depressão e ansiedade. São comuns os pesadelos ou lembranças repentinas e alucinações.
Além disso, também são sintomas do estresse pós-traumático a hostilidade, gritos, desesperança, pensamentos indesejados ou suicidas, solidão e forte sofrimento emocional.
Burnout materno
A exaustão das mães com a sobrecarga de trabalho, mesmo antes da pandemia, tem levado alguns estudiosos a usar a expressão “burnout materno”. Originalmente, o termo “burnout” fala do esgotamento relacionado ao ambiente de trabalho e acontece com profissionais que sofrem uma pressão muito alta, em profissões com alto envolvimento pessoal ou que são muito perfeccionistas.
No caso das mães, em que o trabalho é 24 horas por dia e 7 dias por semana, o risco de o cérebro “pifar” fica ainda maior. Quando o cansaço está acima do normal e leva ao desânimo, depressão e pensamentos muitos negativos e frequentes, é importante buscar ajuda profissional.
Em alguns casos, pode ser necessário um acompanhamento médico ou psicológico. Não hesite em buscar ajuda, seja para adultos, seja para crianças. A família só tem a ganhar!
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