Escuta ativa e maternidade real: ouvir os filhos muda tudo
Não somente ouvir, mas escutar os filhos de verdade. Você sabe praticar a escuta ativa na maternidade? Olhar nos olhos, abraçar, entender o que eles têm a dizer, respeitar e validar seus sentimentos e exercer uma educação respeitosa, na base do exemplo e do diálogo são alguns dos princípios da disciplina positiva – e tem tudo a ver com o assunto.
Praticar a escuta ativa requer esforço. Depende de vontade e muitas doses de humildade. Consiste em reconhecer que ali existe um outro ser e desapegar de resquícios da própria criação. Mas vale a pena. Os resultados são gratificantes. Mãe de dois filhos com idades bem diferentes – João Francisco, de 14 anos, e Pedro Antônio, de 7 anos –, a fisioterapeuta Ana Carolina Bertolucci consegue identificar em seus dois meninos os benefícios dessa forma de criação.
“Como tem uma diferença de sete anos entre os meninos, eu falo que sou uma mãe bem melhor hoje. Porque o bom é a gente evoluir e não regredir. No sentido de ser mais paciente, de dar mais autonomia. Sou uma mãe mais tranquila, menos ansiosa para determinadas situações”, conta Ana Carolina.
Atarefada com o trabalho e os afazeres do dia a dia, ela afirma que sempre buscou um tempo de qualidade com os filhos, mesmo que por um momento curto. Até hoje ela senta para brincar, faz atividades com eles, acompanha o processo escolar e prioriza a maternidade em sua vida.
“Amo ser mãe, mesmo nos momentos mais difíceis, em que a gente está estressada, fala vinte vezes a mesma coisa. A maternidade para mim é algo muito grandioso”, se declara.
Como aplicar a escuta ativa com os filhos?
E como é exercer essa maternidade com um filho em plena infância e outro recém chegado na adolescência? É como ser mãe de primeira viagem pela segunda vez. E não é porque já tem 14 anos que o mais velho merece menos atenção, cuidado e uma escuta ativa menos criteriosa.
Escuta ativa com filho adolescente
“Lidar com o João Francisco adolescente tem me transformado muito. No começo, quando ele virou essa chave para a adolescência, foi difícil. Então eu aprendi que a única forma de a gente ter uma aproximação era a partir da escuta. Aprendi a escutar mais ele, a respeitar ele, nas pequenas coisas.”
Entre os momentos para validar os sentimentos de um filho adolescente, está justamente o respeito à privacidade e aos seus momentos individuais. “Aprendi a bater na porta dele antes de entrar e pedir licença, de orientar sem brigar, sem gritar, sem discutir”, explica. Esse aprendizado veio com o tempo. Ana Carolina lamenta ter batido de frente com seu filho mais velho algumas vezes.
Ao encarar as transformações e os desejos dele por autonomia, ela ainda não sabia como agir ou lidar. Com o tempo, ela percebeu que era necessário ouvir o filho, de verdade, e entender que esse respeito era uma via de mão dupla.
A fisioterapeuta chegou até a ser corrigida por João nas vezes em que perdeu a paciência com ele ou alterou o tom de voz. A mãe encara como um bom sinal de que sua forma de educar funciona e de que o filho já entendeu a maneira certa de se relacionar.
A escuta ativa é uma postura que os pais podem assumir desde a infância, mas pode ser implementada com os filhos já mais velhos. Assim, eles se sentem acolhidos, em um ambiente seguro e com espaço para criarem a própria história.
“Ele começou a perceber como isso era bom pra ele também”, comemora a fisioterapeuta. Ela afirma que, em momentos em que o filho se exalta, ela aproveita para validar os próprios sentimentos e conversar com o primogênito sobre empatia e respeito.
“Eu falo para ele: 'olha, não vou permitir que você fale comigo dessa forma, eu não estou gritando com você, então a gente vai conversar'. Ele reconhece, pede desculpas e a gente conversa. Mas sempre naquela posição de que eu sou mãe, e minha função é zelar pelo cuidado deles”, conta.
É importante lembrar que exercer uma criação com apego, respeito e acolhimento não significa abrir mão de limites. O papel dos pais na educação é guiar os filhos para buscarem o melhor caminho e ajudá-los a lidar com a frustração, se necessário.
Praticar a escuta ativa desde os primeiros anos
Com o caçula, Ana Carolina busca exercer esse tipo de comunicação desde o início. Com crianças menores, é importante entender o espaço de que elas precisam para identificar os próprios sentimentos e absorver a situação ao redor. “Com o Pedro Antônio, de 7 anos, eu tento estar cada vez mais com ele, conversar, escutar quando ele está chorando. Se eu vejo que ele não está legal, começa a ficar mais irritado, tento conversar. 'Você está legal? Tem alguma coisa que você quer falar para a mamãe?'. Se eu vejo que ele não quer, respeito o tempo dele e falo que a hora que ele se acalmar e quiser conversar, estarei aqui para escutar”, conta a fisioterapeuta.
É importante que os filhos encontrem sempre nos pais esse lugar de escuta, para expor o que sentem e vivenciam e, a partir daí, conseguir lidar com as diferentes situações.
Maternidade real, escuta ativa: resultados reais
O caminho pode ser mais trabalhoso, mas os resultados logo são visíveis. Ana Carolina já percebe no filho mais velho, em seu convívio social, os frutos de uma criação com base em escuta e acolhimento.
“Eu vejo a forma como ele trata as pessoas, não tem validação melhor do que os pais dos amigos chamarem ele para estar com a família, dizerem que é um menino educado, respeitoso”, se derrete.
Apesar de alguns comportamentos típicos da idade, o resultado também aparece dentro de casa “Se ele dá uma vacilada, vem humildemente pedir desculpas, ele sabe que errou. Ele tem consciência dos momentos em que se excede, que precisa se corrigir. Adolescência não é fácil, mas eu não bato mais de frente. Respiro fundo e tento me acalmar, dar o exemplo, que é o melhor caminho”, explica.
Esse comportamento se reflete no relacionamento do mais velho com o caçula. Ao ver o adolescente ajudar o irmão, Ana Carolina identifica que os filhos aprenderam com o comportamento dos pais e ainda aprimoram os ensinamentos.
A fisioterapeuta conta que muitas vezes presenciou cenas do irmão acalmando o caçula de uma forma que nem ela consegue.
“O Pedro Antônio estava passando por uma fase de querer ficar mais junto dos pais, reflexo do tempo que ficamos juntos durante a quarentena. Uma vez precisei que ele dormisse na minha mãe, pois eu e o pai dele tínhamos um compromisso. Ele não queria ir, ficou choroso. Conversamos com ele e nada. O João Francisco veio, abraçou ele e falou: ‘não fica preocupado, eu sei que dá saudade da mamãe e do papai, mas a gente vai estar junto, eu vou te fazer companhia, você não vai estar sozinho’ . A hora em que ele para e dá essa atenção para o irmão, eu percebo que a gente está no caminho certo. Ele realmente conseguiu acalmar ele, eles foram juntos, graças ao João”, conta, orgulhosa.
E conclui:
“É muito importante a gente validar os sentimentos deles, respeitar, e não impor como achamos que deveria ser. Porque eles vão ser seres humanos melhores. Vão criar filhos melhores e a gente segue em uma constante evolução. Ninguém vive sozinho. A gente está em um mundo que precisa de um olhar colaborativo um com o outro. De que adianta eu olhar para mim, fazer todo trabalho comigo, se em nenhum momento eu externalizar isso e olhar para o próximo? Trago isso o tempo todo para os meninos. A importância de olhar para os outros e levar toda essa transformação ao mundo ao nosso redor. Assim conseguiremos mudar o mundo que a gente vive.”
E a gente assina embaixo! Afinal de contas, somos todos mães e pais em constante fase de crescimento. 💛 Quer saber mais sobre a importância da escuta ativa? Leia aqui.
Para Ninho®, o poder da escuta ativa vai ainda além dos laços familiares. Afinal, o amor que damos aos nossos filhos, é o amor que eles dão ao mundo. E isso aparece de forma emocionante na campanha de Dia das Mães. Tente não se emocionar com o vídeo.