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Para mães e pais 
em fase de crescimento.

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Ninhos do Brasil + Carochinha Editora: Ninhos do Brasil se uniu à Carochinha Editora, selecionando histórias que auxiliam nas questões enfrentadas em diferentes fases. Confira!

Liberdade e propósito: mães felizes criam crianças felizes!

Samara Felippo SF
Samara Felippo e suas duas filhas. A filha mais nova no meio, mãe e irmã beijando suas bochechas uma de cada lado. ao fundo, decoração de aniversário.

Eu tenho um mantra de todos os dias: “Mãe felizes criam filhos felizes”.

Ser feliz significa criar um ambiente não hostil, sem violência, com amor. Isso impacta muito na criação de nossos filhos, mas estou falando de mim. Eu fui mãe aos 30 anos, após um namoro breve. 

Mesmo sem ter consciência disto, sempre busquei minha liberdade. Fui a típica adolescente sempre querendo ir além. Namorei quem eu quis, mesmo que ainda muito dentro de uma heteronormatividade compulsória. Comecei a ter prazer com meu corpo e buscar esse prazer, mesmo achando que estava “errado”. Me vestia com as roupas que me faziam sentir linda, mesmo às vezes mudando por medo de ser assediada, medo do pai ou do namorado reclamarem. Conquistei minha independência financeira cedo, um grande passo para nossa autoestima e poder pessoal. Sempre saí e festejei muito.

Com a chegada da maternidade, eu tinha muito a ideia romantizada de ser a mãe “exemplar”, sempre dentro daquilo que nos pregam do que é esse “exemplo”. Achei que estava indo no caminho “certo”, entregando o que a sociedade me cobrava. Eu atendia, seguia, obedecia. 

Até que com a queda da família “perfeita”, tudo mudou. Uma chave virou na minha cabeça. 

Ainda fiquei um tempo no luto, me culpando pelo fim do sonho da família ideal, mesmo com toda violência sistêmica que existe dentro dessa idealização, das aparências que a gente acha que precisa manter. Resolvi não seguir mais esse caminho, sabendo que minhas escolhas iriam impactar diretamente a criação de minhas duas filhas. 

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Mãe e mulher, quem sou eu?

Que mãe eu queria ser? Que mãe eu poderia ser? Que exemplo eu queria que elas crescessem vendo dentro de casa? Que tipo de mulheres eu desejo que minhas filhas se tornem? Que tipo de mulher eu ainda iria me tornar? Tomei a decisão certa? E as minhas vontades como mulher, para além de mãe, eu lutaria por elas? 

Cada uma de nós tem suas dores e olha para elas de uma forma. Mas mães também podem ser felizes. Dentro do meu privilégio, que faço questão de reconhecer, resolvi encarar a vida de mãe solo e buscar a menina, adolescente e mulher que moram em mim. 

Mostrar para minhas filhas que o luto existe, seja pela perda física ou emocional de alguém que amamos, foi fundamental para nossa relação. Mas o fato é que naquela época eu não pensava muito nisso, só ia vivendo, vivendo a tristeza, a frustração e a culpa que achei que fossem minhas — um erro comum. 

Sabia que elas me viam chorando. Lara bebezinha ainda não podia me perguntar muita coisa e a Alícia absorvia tudo, ia quietinha tentando entender e, mesmo sem saber, acolhendo minhas dores. 

O tempo foi passando. E eu fui conseguindo me enxergar melhor. 

A importância de se enxergar

Lembro da falta que eu sentia de sair com minhas amigas, de viajar, de não ter que explicar nada para ninguém. Deixar transparecer isso para elas poderia ser considerado coisa de uma “péssima mãe”. Sentia uma obrigação/pressão enorme em estar ali com qualidade de presença, amor e dedicação pras minhas filhas. 

Num determinado ponto da história, o trabalho me salvou. 

Comecei a sair do limbo e queria mostrar a elas a carreira que a mãe delas tinha conquistado, qual era meu trabalho e como ele me deixava feliz. Tive uma oportunidade de trabalho que veio num momento crucial dessa jornada e decidi descolorir meu cabelo e entrar de cabeça no teatro, naquela nova história que a vida me apresentava. 

E foi aí que a mulher que sou, a mulher além da mãe, começou a aparecer. 

A primeira vez em que saí para beber com meus amigos, depois da Lara nascer, foi arrebatadora. Comemorei meu aniversário de 36 anos e estar ali longe das funções de ser mãe me lembrou de que havia vida fora da maternidade. 

E mais uma vez, na minha cabeça: como isso impactaria a vida das minhas filhas? Que tipo de mãe eu sou? Uma mãe feliz!

A minha vida sexual também gritava por liberdade. Eu não tinha mais a liberdade de levar romances para casa ou ir para a casa desses romances para só acordar no dia seguinte. Tinha poucas horas para mim. 

Hoje entendo que ter esse tempo para mim é fundamental. Sentir prazer é fundamental. Dá poder. 

Encarando privilégios

Sei que muitas mulheres não têm o privilégio de uma única hora livre para um autocuidado, um descanso. Quanto mais poder curtir um dia, uma noite só para si. Eu tive esse privilégio, e aproveitei.

Durante essas minhas autodescobertas, meu renascimento, conheci meu parceiro atual. E, dentro da baixa autoestima em que vivia, eu pensava: “como um cara quer ver de novo uma mulher com dois filhos? O que ele viu em mim? Por que eu? Tem tantas mulheres mais interessantes que eu, sem filhos, com tempo…”

E talvez o mais importante: o que minhas filhas vão pensar de uma pessoa nova na vida da mãe delas? 

Mas tive a sorte de conhecer um parceiro de vida que abraçou minha maternidade e que ama minhas filhas incondicionalmente. Sempre deixamos claro para elas que ninguém estava substituindo o pai, que elas têm um pai que as ama e que elas amam muito.

O que eu trouxe foi a visão da minha felicidade como mãe. 

Falo sobre isso na minha peça “Mulheres que Nascem com os Filhos”, que tem tudo a ver com este texto: “Quero que minhas filhas cresçam, sem precisar da aprovação de ninguém, quero que elas me vejam realizando os meus sonhos para que elas se sintam capazes de realizar o sonho delas também”.

Pés no chão, sim. Liberdade, também.

Eu criei meus próprios projetos, sou dona deles. Eu realizo, eu sonho, vou atrás porque quero que elas se inspirem em fazer o mesmo. 

Sei que terão seus ídolos, outras referências femininas e outras amigas. Mas eu sou mãe delas. E a mãe delas é livre, é atriz, fala palavrões, conversa, repreende, dialoga, diz não quando precisa dizer, é apoio e acolhimento.

Essa mãe também se veste como quer, se sente linda e gostosa, namora e tem prazer na vida. Essa mãe segue tentando driblar essa sociedade que a todo tempo tenta minar nossa autoestima, duvidar da nossa capacidade. 

E essa mãe repete: DANEM-SE ELES. Ninguém tem o direito de nos julgar. 

Sejam vocês. Aprendam a lidar com derrotas e frustrações, saiam mais forte delas. Sejam desobedientes e questionadoras. Vivam sua sexualidade e sua espiritualidade se quiserem, escolham seus parceiros ou parceiras, saibam dizer não e impor limites. O respeito consigo mesmas é o mais importante.

“O que suas filhas irão pensar?”

Elas terão certeza que a mãe delas é feliz, é livre, realiza seus próprios projetos, corre atrás dos seus sonhos, levanta outras mulheres, luta contra o que acha injusto, sabe que é capaz e sempre será porto e apoio para elas.

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