“Todo mundo olhando” - como ajudar durante uma birra infantil
Você já presenciou um ataque de birra infantil? A criança chora, grita, tenta bater, joga coisas no chão ou se joga também. Na primeira vez, pode ser assustador, tanto para a mãe, quanto para quem vê de fora.
“Filho meu não vai fazer esse tipo de coisa” – pensam aqueles que nunca tiveram filhos (ou nós mesmos antes de sermos mães e pais!).
De fato, não são todas as crianças que fazem. E, se forem muito fortes e constantes, podem sinalizar alerta.
Mas na maior parte dos casos são perfeitamente comuns, especialmente em crianças entre 2 e 4 anos de idade. Faz parte do desenvolvimento neurológico, que ainda está formando a parte mais racional do cérebro.
Fazer ou não fazer birra, portanto, é muito mais uma questão de temperamento que de educação.
Então, o que fazer diante de uma crise de birra infantil? Como agir com empatia?
Imagine a cena: uma mãe sozinha com três filhos, de 1, 3 e 5 anos de idade, no parquinho. O de 3 anos começa um ataque de birra, porque quer muito ir num brinquedo que está interditado. Chora, não escuta ninguém, berra. O de 1 ano está no colo, o mais velho fica agitado na volta, dizendo para o irmão parar de chorar.
O que você faz nessa situação? E, se você fosse a mãe, o que você preferiria que fizessem?
- Olha para a mãe e diz que ela deveria educar melhor os filhos ou não sair com eles.
- Finge que não vê para não constranger a mãe.
- Se mete explicando para a criança o motivo de não poder usar o brinquedo.
- Fala alguma palavra de apoio para a mãe.
- Pergunta para a mãe como pode ajudar, segurando o mais novo e/ou entretendo o mais velho, ou qualquer outra ação prática.
Esperamos do fundo do coração que você tenha descartado a opção 1 logo de cara. Afinal, tudo o que uma mãe não precisa nessa hora é de julgamento.
Muitos escolhem a opção 2, e preferem fingir que não estão vendo o ataque de birra. Seja por achar que é um problema da mãe, por falta de empatia, por medo de ofender se tentar ajudar, ou por não saber o que fazer mesmo.
Mas fingir que não vê também não ajuda muito. Isso porque sabemos que você viu, não tem como não ver. Algo muito comum em vários depoimentos sobre birras é justamente a sensação de estar todo mundo olhando e julgando. Mesmo que não estejam.
A opção 3, de tentar explicar para a criança, pode ser bem intencionada, mas dificilmente será eficaz. Isso porque, durante o ataque de birra, a criança não está com a área lógica do cérebro ativada e será incapaz de compreender a sua argumentação. Talvez algo que desvie o foco de atenção dela tenha maiores chances de eficácia.
As opções 4 e 5 são as mais empáticas e acolhedoras com as mães. Apoiando a mãe (pai ou qualquer cuidador responsável pela criança no momento), cria-se ambiente para ela possa ser acolhedora e empática com a criança também. Quer ver como isso é possível?
Como me ajudaram durante as birras do meu filho
A bancária Verônica Romano Porto, moradora de Pelotas, no Rio Grande do Sul, lembra de três episódios de birra mais marcantes e de como as pessoas ao redor conseguiram ajudar, escolhendo as opções 4 e 5.
A primeira cena foi no shopping, quando seu filho, Henrique, tinha dois anos. Verônica já tinha lido algumas coisas sobre “terrible two”, também chamada de “crise de adolescência do bebê”, mas naquele momento viu tudo aquilo que falavam se materializar na sua frente.
“Ele não queria sair do shopping, se jogou no chão, jogou uma garrafa de água. Foi água para todos os lados. Todo mundo me olhando, ele se arrastando no chão, eu sem saber o que fazer, se puxava, se fingia que não estava vendo. Dá vontade de sacudir e arrastar, mas respirei e fiquei esperando passar”. Nisso, uma mulher se aproximou de Verônica, dizendo que ficasse calma, que crianças eram assim mesmo, e começaram a conversar sobre a tal “adolescência da criança”. “A moça da limpeza veio secar e foi simpática também. Ajudou a me acalmar e, mais calma, consegui convencer ele a irmos embora”, lembra Verônica.
“Teve outra vez, no supermercado perto de casa, que ele queria porque queria um iogurte de chocolate, e eu disse que não. Começou a gritar e a jogar coisas no chão”. A cena se repetia, mas Verônica já tinha mais tranquilidade para lidar. “Brinquei com a funcionária ‘que criança é essa?’”, lembra rindo. Mas logo explica: “era um mercado em que todas as pessoas nos conheciam bem. Todo mundo ali tinha uma história de birra pra contar, foi acolhedor. Nem lembro como ele parou de chorar”.
Outra lembrança de gentileza: Verônica, dessa vez grávida, saindo do supermercado com o filho chorando aos berros. Uma pessoa viu e ofereceu ajuda para guardar as compras no carro.
“Isso ajudou muito! Entendo que algumas pessoas tenham medo de oferecer ou de aceitar ajuda, principalmente em cidades maiores. Talvez eu tenha muita sorte. Claro que teve alguns episódios de pessoas olhando torto, mas gosto de lembrar desses três. Hoje quando vejo alguma situação assim, sempre tento acalmar a mãe, lembrando ela que vai passar”, finaliza Verônica, mãe do Henrique e da Helena.
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