A influência da alimentação familiar nas crianças
A formação das escolhas alimentares de uma criança está diretamente relacionada à rotina familiar. Afinal, os pais e cuidadores são as primeiras referências de contato que ela tem. Sendo assim, ela aprende e se condiciona a partir da imitação dos hábitos praticados pelos adultos.
A influência da família na alimentação da criança vem desde a gestação, nesse período a criança recebe pelo cordão umbilical os nutrientes ingeridos pela mãe. Durante o período de aleitamento, a transferência de nutrientes é feita a partir da amamentação e, na infância, a construção do repertório alimentar das crianças é feita pela imitação das práticas e escolhas feitas pelos familiares.
Os pais que se alimentam de forma saudável e equilibrada fazem com que as crianças tenham a oportunidade de desenvolver um paladar em que todos os grupos alimentares são incluídos com todos os nutrientes essenciais para promover uma adequada qualidade de vida, favorecendo seu desenvolvimento e crescimento.
E não é só na alimentação e na ingestão de nutrientes que a relação familiar impacta! As refeições em família estão associadas também ao desenvolvimento emocional das crianças. Na verdade, está tudo relacionado. Por isso, defendemos tanto um olhar integral sobre a saúde de cada criança: avaliando aspectos sociais, emocionais e psicológicos, como os sugeridos no Índice de Bem-estar do brasileirinho, disponível aqui no Ninhos do Brasil.
A educação alimentar começa em casa com a família
Antes de tudo, é importante lembrar que a alimentação na infância é importante para o crescimento e desenvolvimento saudável da criança e tem o papel de manter a criança com alta imunidade, enfrentando melhor as doenças infectocontagiosas tão comuns na infância. A ciência desvendou ainda muitas coisas em relação à prevenção de doenças, e uma das mais importantes foi o papel da alimentação na etiologia ou causa de diversas doenças.
Assim, está bem estabelecido que uma alimentação saudável pode prevenir ou retardar o aparecimento de doenças cardiovasculares, hipertensão, obesidade, diabetes e alguns tipos de câncer. Por outro lado, sabemos que mudar hábitos alimentares de um adulto não é tarefa fácil e nem sempre é bem sucedida, pois esses hábitos são muito particulares e próprios de cada pessoa. Esses dois fatores nos remetem à importância da construção de hábitos alimentares saudáveis desde a infância, garantindo uma vida plena de saúde.
Confira algumas dicas sobre como fazer isso:
1. Estruture compras saudáveis
Já sabemos que o gosto por alimentos variados começa com os exemplos dados pelos pais, por isso o exemplo da família sempre contribui com a adesão da criança. Fundamentalmente, a exposição a alimentos novos deve ser repetida de 8 a 15 vezes para que a criança coma um alimento novo em quantidade razoável. Essa repetição sistemática requer planejamento. Assim, organizar listas de compras semanais, observar a safra de alimentos garantindo a compra de alimentos da época e não padronizar simplesmente a compra de hortifruti é um primeiro passo.
Em seguida, sabe-se que manter alimentos saudáveis em lugar acessível à criança, bem como prontos para o consumo, também são fatores que favorecem sua ingestão. Assim, ter frutas expostas, ou se possível lavadas ou cortadas na geladeira, por exemplo mamão ou melancia picados, verduras lavadas e higienizadas, legumes cortados (pepino ou cenoura em tiras) também estimulam seu consumo.
Da mesma forma, restringir a compra de salgadinhos, doces, bolachas recheadas, também pode ser um convite à alimentação saudável. Restringir não significa necessariamente proibir, apenas pode-se fazer alguns combinados com as crianças, de como será a frequência de consumo desses alimentos. Por que não tornar o consumo de salgadinhos mensal ou quinzenal, por exemplo? Se o refrigerante é inevitável, por que não deixá-lo apenas para o final de semana? Muitas vezes pode parecer aos pais que restringir um alimento à criança é sinal de crueldade, ou, por outro lado, dar um alimento (doces principalmente) são um forte sinal de afeto.
Mesmo que o adulto já tenha essa relação estabelecida em sua vida e queira transmiti-la a seu filho, buscar novas formas de dar carinho e atenção, brincando com a criança, pegando-a no colo e estando disponível, talvez seja mais eficaz do que dar um chocolate ou uma porção de balas à criança.
Não podemos esquecer: cuidar das emoções é fundamental para uma relação saudável com a comida. E isso começa desde a introdução alimentar. Escrevi mais sobre isso aqui: Comida e emoções: como criar uma relação saudável com a comida desde a introdução alimentar
Por fim, zele pela qualidade da relação entre você e seu filho! Se na hora das compras se estabelece uma guerra entre você e ele no supermercado, simplesmente tente se organizar para não levar seu filho às compras – elas se tornarão provavelmente mais rápidas e objetivas e podem evitar toda uma série de discussões, chantagens e sofrimento. Ao mesmo tempo, outras tentativas podem ser feitas, na feira ou em sacolões, que ajudam a apresentar uma série de alimentos saudáveis às crianças e contêm basicamente alimentos mais saudáveis.
2. Varie as formas de preparo de alimentos
Abrir-se para o novo: descobrir novos alimentos, seu gosto e paladar, saber prepará-los, abre uma série de aprendizados e prazeres. É ao mesmo tempo, se descobrir, valorizar o que se gosta, saber identificar suas preferências e ganhar autonomia.
Cozinhar em família, preparando os alimentos junto com a criança, é um estímulo forte para o consumo de alimentos, e para a construção de uma boa relação familiar. Começar com receitas fáceis, porém saudáveis, é muito importante.
Um recurso muito interessante a ser explorado é a utilização dos livros de receitas direcionados às crianças, ou aos adultos também. A realização de atividades de culinária traz consigo uma série de outras possibilidades de aprendizado, além da qualidade dos alimentos, há a questão das quantidades, a proporção dos alimentos na receita, a sua transformação pelo cozimento, pelo calor e até a leitura e compreensão dos rótulos e embalagens. Estar na cozinha e lidar com alimentos oferece ainda uma oportunidade de conversar sobre lixo, desperdício de alimentos e o cuidado e respeito à natureza.
3. Plante em casa ou mantenha contato com horta ou pomar
Uma forma interessante de ampliar o conhecimento da criança através da alimentação é manter uma horta em casa, ou mesmo pequenos vasos com temperos. Eles facilitam sua utilização na culinária e ampliam o repertório de alimentos da família. Além de fonte de alimentos e temperos, é possível utilizar as plantas para alívio de sintomas de doenças ou chás com poder medicinal.
É possível encontrar na internet as orientações de como fazer e manter uma horta em casa. Outra forma importante de conhecimento e estímulo ao consumo de frutas e verduras é que a criança tenha acesso a um pomar, uma horta e uma plantação de alimentos. Esse conhecimento ajuda a trazer familiaridade com os alimentos saudáveis e favorece seu consumo.
4. Mantenha um bom ambiente de refeições
Toda a energia positiva ou o esforço despendido na compra, preparo e oferta de alimentos saudáveis deve ser consagrada no momento das refeições. Assim, é importante que a família faça desse momento um ambiente tranquilo, com possibilidade de conversa e trocas, sem formas de castigo ou chantagem. Isso formará uma lembrança positiva por muito tempo e uma relação positiva com a comida. Da mesma forma, desligar a televisão, sentar em volta da mesa e comer todos juntos, deve ser uma meta a ser atingida, mesmo que apenas em uma das refeições do dia.
E lembre-se:
A criança aprende brincando
Além das atividades de culinária, que são excelentes formas de contato com os alimentos, podemos contar atualmente com diversos jogos educativos com o tema da alimentação e alimentos. Assim como nos livros infantis, também encontramos caminhos para abordar o tema com as crianças, propondo brincadeiras, invenção de receitas e criando formas lúdicas de conversar sobre o assunto.
O papel do adulto na hora das refeições
Seja sozinho com o adulto, seja em um ambiente coletivo, é muito importante que o adulto que acompanha a refeição com as crianças esteja atento àquilo que a criança comeu ou recusou, e sua relação com o alimento, para que possa intervir positivamente incentivando-a ou encorajando-a e, acima de tudo, resgatando o valor de comer junto e conversar durante a refeição.
Mas, além disso, é muito importante que o adulto tenha uma perspectiva da importância desse momento para todos. Sentar junto com a criança, comer junto com ela, apreciar os alimentos e falar sobre eles é recomendável em qualquer situação. Favorecer que o ambiente durante a refeição seja agradável e livre de pressões garante à criança uma boa relação com os alimentos e será a base de sua alimentação por toda a vida.
- Procure entender os sinais não verbais que seu filho emite às refeições e responda na forma de apoio – se ele recua com o corpo, vira a cabeça para o outro lado, não abre a boca, empurra pratos e talheres etc. – e não ignore a recusa ou force a alimentação.
- Ofereça alimentos no tamanho, formato e consistência que seu filho possa se alimentar sem o seu auxílio; dê a ele a oportunidade de exploração de sabores e texturas.
- Sorria e utilize palavras de encorajamento durante as refeições; converse com a criança sobre alimentação de maneira informal e gentil.
- Faça contato visual com seu filho durante todas as refeições.
A salada e a salada de frutas são duas preparações interessantes para se fazer juntamente com a criança e também proporcionam um amplo conhecimento dos alimentos. Faça receitas coloridas, a arrumação dos pratos também conta muito. Seja criativo: misture cores, faça carinhas com as comidas, corte frutas em formatos diferentes. As crianças são muito visuais.
Compre livros para crianças que falem de alimentação saudável, assim, eles passam a simpatizar mais com os alimentos. Conte histórias com personagens, como Popeye, que comia espinafre para ficar forte; de como as abelhas fazem o mel; de como os coelhos são fortes porque comem cenouras etc.
Rever hábitos alimentares, padrões de comportamentos relacionados a compra, preparo e oferta de alimentos no ambiente familiar é um importante começo para a construção de melhores práticas relacionadas à alimentação. É um desafio a ser enfrentado, pois reverte em saúde, felicidade e maior harmonia familiar.
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Comer junto gera momentos deliciosos e aumenta a chance de desenvolver uma relação mais saudável com os alimentos. Vale para as crianças e também para os adultos. Afinal, estamos todos sempre aprendendo 💛