Disciplina positiva: como dizer não?
Não é fácil dizer não para as crianças. Muitas vezes isso resulta em choro, raiva, lágrimas. As crianças têm muita dificuldade em aceitar quando os pais dizem não.
Loja de brinquedos. Luiza rola no chão aos prantos. Ela quer a boneca. A cena vai durar uns bons cinco minutos, até que a Luiza finalmente perceba que sua estratégia não vai funcionar. A mãe foi resistente, abaixou-se até o chão e conversou de forma firme com Luiza.
As crianças sabem como nos convencer para conseguir o que desejam. Nem sempre é fácil resistir aos olhinhos brilhantes, a uma voz charmosa e um humor fofinho. Num caso de colapso, nem sempre é fácil aguentar os olhares das pessoas nessas horas. Elas não entendem o colapso emocional da criança e ainda julgam os pais.
Podemos imaginar o seguinte dilema da mãe: “e se for apenas dessa vez, poxa... Luiza se comportou tão bem até agora... E se eu der a boneca que ela tanto deseja? Ela vai parar de chorar e podemos seguir mais tranquilas no passeio pelo shopping”.
Uma boa comunicação com as crianças envolve ouvir bem e falar de maneiras que incentivem seu filho a te ouvir. É como qualquer outra habilidade – você melhora com a prática.
Você já percebeu quanto tempo você passa dizendo não ao seu filho? “Não toque nisso”, “agora não”, “não corra”, “não grite”, “não tenha medo”... Você passa o dia inteiro comunicando o que você não quer que aconteça.
Você sabia que o cérebro da criança não entende muito bem a negação? Na verdade, não é que ele não compreenda, ele precisa imaginar para não imaginar... Fazer para não fazer. Você entende isso?
Se eu disser para você não pensar em uma girafa, o que você está fazendo agora?
Portanto, dar uma instrução negativa é menos eficaz, porque é mais difícil de entender, especialmente antes dos 2 anos de idade, quando a linguagem ainda não é uma habilidade dominada pela criança.
Em crianças pequenas, é normal você ter que repetir regularmente as mesmas instruções.
O equilíbrio entre agradar e não agradar exige muita ponderação. Além disso, ao destacar o que o seu filho está fazendo de errado, você corre o risco de dar a entender que ele não faz nada certo, já que você passa o dia todo ordenando, “não pode isso”, “não pode aquilo”. Isso tudo afeta a confiança, a autoestima e a autonomia da criança.
Ir às compras com as crianças, por exemplo, deve ter um objetivo e um propósito definido. Se você não estabelecer limites e combinados prévios para as exigências das crianças, elas vão fazer o que bem entenderem.
Nessas horas o não e o limite se fazem mais do que necessários. É preciso ter coragem para estabelecer a ordem e ser firme para manter a negação: “filho, precisamos levar alguns iogurtes, você quer escolher?”. Nesse caso, aceite a escolha. Logo em seguida, a criança corre para o corredor de biscoitos e pega alguns. “Filho, hoje não. Temos muitos pacotes em casa.” A criança agora insiste: “mas eu quero!”. Então, você fala com um sorriso no rosto e com firmeza: “Filho, fica para a próxima semana. Venha, me ajuda a escolher as maçãs ali”.
Nem sempre precisamos negar um pedido da criança, mas quando o desejo dela estiver em desacordo com o momento ou se for inadequado, aí sim precisamos de coragem e firmeza para dizer o não.
E você vai me perguntar então: o que eu devo fazer para diminuir a quantidade de nãos?
Substitua o "não" por um "sim" quando for possível
Por exemplo:
“Sim, quando você terminar a tarefa da escola, aí você pode brincar”.
“Quando você terminar de guardar os brinquedos, aí você pode fazer”.
“Sim, você pode comer logo depois de lavar as mãos”.
Peça algum tempo para pensar na resposta
Uma criança não precisa e nem deve ouvir “sim” o tempo todo. Podemos dizer assim: “Deixa a mamãe pensar sobre isso. Vou te dar uma resposta em __ minutos / horas / ou dias”.
Esse intervalo tem algumas vantagens: demonstra para a criança que o desejo dela é levado a sério e dá aos pais a oportunidade de sondar suas próprias emoções diante do pedido (Do que tenho medo? Meu “não” é negociável? Em que condições eu poderia aceitar?).
Ofereça opções
As escolhas colocam a criança no centro de sua aprendizagem e facilitam a tomada de decisões.
“O que você acha de...?”
“Eu preciso de... Quando você acha que pode me ajudar?”
“Filhos, vocês podem escolher: ou vocês jogam bola lá fora ou ficam dentro de casa, mas guardam a bola e brincam de outra coisa. Vocês decidem”.
Transforme as proibições em instruções positivas
“Não grite!” ➡️ “Fale baixinho”.
“Não corra!” ➡️ “Eu prefiro que você ande”.
“Não se esqueça do seu casaco.” ➡️ “Pense no seu casaco, lembra de pegar o seu casaco”.
"Não coloque a mão no fogão." ➡️ "Pare!" "Cuidado!" "O fogão está muito quente!"
"Não mexe no meu telefone." ➡️ "Mamãe pode mexer no telefone porque é meu trabalho, estou trabalhando com ele, você pode ter esse brinquedo aqui".
Quero esclarecer que falar positivamente com seu filho não tem a intenção de fazer com que ele obedeça com o dedo e o olho, com aquela cara de brava ou com os olhos arregalados, mas sim fazer com que seus pedidos sejam compreendidos com mais clareza.
Você precisa saber que por trás de qualquer comportamento inadequado se esconde uma mensagem, uma necessidade a ser levada em consideração.
E o que fazer em caso de perigo?
As crianças de até 4 anos de idade correm mais risco de sofrer acidentes domésticos. Por exemplo: você rapidamente fica com raiva quando vê o seu filho subindo em uma escada mal colocada, escalando a mesinha de centro ou correndo com toda velocidade pela casa com a escova de dente na boca!
Vamos ver na prática:
“Nããão, não corra com a escova de dente na boca, se você cair, pode se machucar e corre o risco de ir direto para o hospital!”
Nesses casos, não se deve sentir culpa por ter dito. O que importa é você terminar a frase com algo positivo, indicando o que a criança pode fazer e como fazer.
“Filho, por favor, não corra com a escova de dente na boca, se você cair, pode se machucar. Você pode entregar aqui a escova para mamãe? Agora pode ir, já está seguro!”
E o que fazer quando queremos expressar uma recusa?
Quando a criança quiser ficar mais tempo assistindo ao desenho, pedir para ficar mais uns minutos no parque ou para brincar exatamente naquele brinquedo que está ocupado, por exemplo, é possível expressar a recusa das seguintes formas:
- Reconheça o desejo da criança: “eu sei que você gostaria de mais alguns minutos, mas eu já te avisei que seriam os 10 minutos finais”.
- Motive a recusa (sem os "mas"): "Doces demais fazem o seu estômago doer!"
- Sugira outra coisa ou distraia: “Vamos lá, olha a maçã que eu acabei de comprar, tá supergostosa. Você pode me ajudar a lavar?"
Quando você começa a prestar atenção em suas palavras, percebe o impacto que uma palavra escolhida ou uma frase diferente podem ter. É um verdadeiro esforço no início, mas depois, aos poucos, a linguagem positiva vai ficando mais natural para você.
Fale com a voz do coração. A comunicação é uma das chaves para um relacionamento harmonioso, satisfatório e respeitoso para mães, pais e filhos, em todas as direções.