Como lidar com a raiva? Dicas para crianças (e adultos!)
Saber como lidar com a raiva é importante para crianças e adultos. Afinal, todos nós sentimos raiva em determinados momentos da vida (mais do que gostaríamos, é verdade)!
Ela é uma emoção como qualquer outra, mas, se não cuidarmos dela, pode virar uma explosão. Entender quando está surgindo, seus “gatilhos”, é fundamental para controlarmos ou minimizarmos seu efeito no corpo e nas relações. Saber o que nos acalma também.
Vamos entender um pouco mais?
De onde vem essa raiva toda?
A raiva não surge sozinha. Ela costuma ser alimentada com outras emoções e sentimentos, como frustração, insegurança, medo... até fome ou cansaço! Quando esses são ignorados, é que ela cresce!
Esses sentimentos acionam um hormônio chamado cortisol, também conhecido como o hormônio do estresse.
Normalmente, tem um motivo ao fundo, que pode ser totalmente diferente daquele que ativou a explosão. É o que estava alimentando antes que precisa ser investigado com atenção.
Por que crianças têm crises de raiva mais frequentes?
As crianças ainda estão conhecendo as emoções. Por ainda terem dificuldade de reconhecer cada uma delas chegando, é bem comum que tenham mais “explosões” que os adultos.
Aí choram, gritam, jogam coisas, rolam no chão, aquela cena. O lado bom é que ela consegue extravasar. Mas cabe a nós adultos ajudar para que não se machuquem e não machuquem ninguém.
Como ensinar a criança a controlar o impulso de raiva?
É importante descobrir quais são os gatilhos da criança, ou seja, quais são as situações que a levam a sentir raiva. Conversar sobre isso e incentivar esse autoconhecimento é o passo inicial para o autocontrole.
IMPORTANTE: essa conversa precisa acontecer em momentos de calma e não durante a crise de raiva, combinado?
Como lidar com um ataque de raiva do meu filho?
Durante a crise de raiva, a capacidade de compreensão fica muito prejudicada. Aí, qualquer explicação, sermão ou censura coloca ainda “mais lenha na fogueira”. Mas o que fazer durante a explosão? Como passar por esse momento sem reprimir as emoções?
Reunimos quatro dicas para lidar de forma positiva e segura com a raiva das crianças:
1. Pedir para a criança extravasar a raiva respeitando os limites
Bater no sofá, na almofada, no pufe… é uma ótima forma de extravasar a raiva em um primeiro momento. O ambiente, porém, precisa estar seguro, sem nada que possa machucar ninguém.
2. Validar o que a criança está sentindo
A raiva é um sentimento sincero, por mais que o motivo pareça bobo para nós. Aqui entra o “eu entendo o que você está sentindo, vamos fazer algo para acalmar?”.
3. Mudar o foco
Convidar a criança para alguma atividade que a ajude a se acalmar. Isso pode variar conforme a criança. É importante testar o que funciona na sua casa.
Pode ser ficar um tempinho em silêncio, ouvindo a respiração ou identificando os sons da rua, uma caixinha de música, um abraço. Mexer em algum brinquedo relaxante (massinha de modelar, e os famosos pop its podem funcionar!).
Se a raiva ainda estiver muito forte, uma atividade física como correr ou pular pode ser eficaz.
4. Quer me explicar o que você está sentindo?
Falar sobre sentimentos pode ser uma tarefa terapêutica para a criança, além de ajudar você a entender o motivo que levou à raiva. Se ela está falando (ainda que entre lágrimas), é importante ouvi-la sem interromper – deixe-a colocar para fora.
Se ela não quiser falar na hora, guarde essa conversa para um momento mais calmo. Temos dicas ainda neste texto!
Você pode sugerir que ela desenhe o que está sentindo ou coloque em palavras caso já saiba escrever.
E eu, como lidar com minha própria raiva?
É normal que situações que exigem muito de nós acabem trazendo um estresse momentâneo – e veja, só, um ataque de raiva! É a hora do adulto colocar em prática o que está tentando ensinar.
1. Procure controlar sua raiva durante uma crise de seu pequeno
A primeira dica é aprender a lidar com sua própria agressividade. Se precisar, se afaste, respire e aí sim tente enfrentar a situação. Narre o que está acontecendo: “eu estou começando a sentir muita irritação, vou respirar fundo, preciso ficar dois minutos em silêncio”.
Se possível, peça ajuda de alguém para ficar com a criança nesse momento.
2. Respire fundo!
Os exercícios de respiração também são válidos para os adultos.
Isso pode nos acalmar e a ciência explica o porquê: ao respirarmos fundo, nossos músculos ficam menos tensos, os batimentos cardíacos desaceleram e substâncias que nos fazem relaxar são liberadas no cérebro.
3. Olhe para você
Se você também tem ataques de raiva com frequência, é importante olhar para aqueles sentimentos de fundo – frustrações, inseguranças, medos, cansaço.
A raiva frequente pode ser um pedido de socorro, como explicou a psicanalista Mônica Pessanha: “É a maneira como nosso corpo, mente e existência inteira acenam com uma bandeira dizendo ‘Preciso de ajuda... por favor, me ajude’. É nosso trabalho fazer algumas pesquisas internas para descobrir qual é a necessidade (ex.: preciso descansar? Preciso de apoio? Preciso ser visto/ouvido? etc.)”.
Ou seja: você está com raiva por que tinha um tênis no meio da sala ou por que você trabalhou demais, ou porque vai chegar uma visita e você se preocupa demais com a opinião dela?
Entendendo nossos sentimentos, conseguimos expor melhor a situação e pedir a colaboração dos outros.
Como lidar com o ataque de raiva depois da tempestade?
Passou? Todos mais calmos? É hora de propor uma conversa para tentar entender o que aconteceu. Isso pode ser horas depois ou até no outro dia.
Desenhos e escrita são recursos interessantes para as pessoas que têm mais dificuldade em falar sobre sentimentos. Filmes e livros também ajudam a dar início à conversa sem necessariamente retomar uma briga.
Pergunte o que aconteceu, o porquê da reação e quais são as alternativas para lidar com mais facilidade se algo parecido acontecer novamente.
Explique o quanto essa reflexão é importante para nosso autocontrole e para conviver com as pessoas. É interessante contextualizar todo o momento e não só o estopim da raiva: o que a gente estava fazendo antes? Foi antes do almoço? Antes de dormir? Como tinha sido o dia? Guardamos muitas frustrações?
É legal lembrar até das reações físicas para a criança aprender a identificar a raiva chegando: “você sentiu o coração bater mais forte? Subiu um calor no rosto? Parece até que a visão e audição ficam alteradas? Olha só o que a raiva é capaz de fazer com a gente! Por isso, precisamos esperar a calma voltar para resolver, né?”.
Importante: reconhecer erros e pedir desculpas também fazem parte dessa conversa – seja no caso dos adultos ou das crianças.
Por fim, mostre que a criança pode confiar em você e que, juntos, vocês estão em um espaço seguro e de acolhimento.
A raiva infantil pode indicar algum problema?
Alguns estudos mostram que, a partir dos 4 anos de idade, a criança tende a diminuir as crises de raiva. Se continuarem muito frequentes, pode ser um indicativo de que algo não vai tão bem.
É difícil especular uma causa e vale avaliar o entorno das relações, na escola e na família. Algumas condições neurológicas também podem provocar maior irritabilidade. É o caso do TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade), do TOC (transtorno obsessivo compulsivo), da depressão infantil, da síndrome de Tourette, do TOD (transtorno opositor desafiador) e de autismo.
O importante é tentar não tirar conclusões precipitadas. Todo e qualquer diagnóstico precisa ser dado por um profissional da saúde, que pode acompanhar o processo de pertinho e ajudar com mais assertividade, combinado?
Inteligência emocional: aprendendo a lidar com a raiva e outros sentimentos
Chamamos de inteligência emocional nossa capacidade de reconhecer, avaliar e lidar com as emoções e sentimentos pessoais e de outras pessoas.
Algumas práticas podem ajudar a prevenir futuras crises de raiva, além de ajudar o pequeno, aos poucos, a entender melhor sobre seu lado emocional. Espia como:
- Incentive a fala e a escuta da criança: é importante falar sobre o que sente, mas também é importante ouvir e entender o lado emocional da outra pessoa.
- Mostre que o diálogo é a base de tudo: reconhecer nossos sentimentos e falar sobre eles ajuda a evitar que tudo se acumule e seja exposto de uma vez só. Pode ser doloroso falar sobre alguma situação ou sentimento que não aceitamos, mas, ao decidirmos conversar, o fardo de encarar aquilo sozinho diminui. E muitas vezes processamos melhor, entendemos e encontramos uma solução para o que nos aflige.
- Reconheça as qualidades do seu filho e incentive que ele faça o mesmo: adquirir esse hábito ajuda a aumentar a autoestima, além de estimular a criança a reconhecer seus defeitos e trabalhá-los de forma saudável.
- Mostre que errar é comum e todo mundo comete erros – inclusive você: falar sobre isso evita que a criança “trave” em alguns assuntos pela vergonha de errar novamente; Traga um viés humano para o tema e reforce que de todo erro tiramos um aprendizado.
- Evite cobranças excessivas, para a criança não se sentir pressionada: isso pode afetar um pouco da autoestima também. É claro que é preciso impor limites e regras, mas o tom com que isso é passado faz toda a diferença.
- Por fim, incentive a criança a fazer o que gosta! A paixão e o prazer em viver são fatores que contribuem para uma vida saudável.
Às vezes, a raiva pode ser confundida com birra e vice-versa. Você sabe o que fazer quando presenciar uma criança tendo um comportamento desses?