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Mitos e verdades sobre o ferro na alimentação infantil

Carol Albuquerque CA
criança sentada a mesa no horário de almoço, sorrindo enquanto segura o talher na mão. Em sua frente estão os pratos com alimentos, incluindo uma salada verde, e há a presença de um adulto do outro lado da mesa.

Quem aqui cresceu ouvindo sobre a importância de comer fígado, feijão e beterraba? Em meu consultório, recebo muitas famílias preocupadas com o consumo de ferro na infância – afinal, elas costumam se informar sobre importância desse nutriente já nas primeiras consultas pediátricas. 

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, esse mineral pode ser suplementado a partir dos 6 meses de vida para alguns bebês. Mas por que o ferro é tão importante? Os alimentos conhecidos por deixarem as crianças mais “fortes” realmente contém o nutriente? A seguir, confira alguns mitos e verdades sobre o ferro.

A importância do ferro para a saúde das crianças

Mas, afinal, o que é o ferro? Qual é seu papel na saúde das crianças? 

O ferro é um mineral fundamental para diversas funções no organismo, principalmente na composição da hemoglobina, cuja principal função é o transporte de oxigênio.

Quando a concentração sanguínea de hemoglobina encontra-se abaixo dos valores de referência, pode ser caracterizada a anemia. Apesar de não ser a única causa possível (é importante sempre avaliar com o médico!), a carência de ferro na alimentação é uma das causas de uma doença comum no mundo todo: a chamada anemia ferropriva.

Entre os sintomas da falta de ferro no organismo estão cansaço, fraqueza/sonolência, palidez e tonturas. Além disso, pontos de atenção são um possível atraso no desenvolvimento, diminuição da capacidade de concentração e aprendizado e impacto no sistema imunológico, que fica mais suscetível a infecções.

O ferro também é muito importante para bebês que apresentam algum fator de risco para o desenvolvimento. Alguns exemplos são: baixa reserva materna desse mineral, prematuridade e baixo peso ao nascer (<2.500g), bebês em crescimento rápido (velocidade de crescimento > p90), clampeamento do cordão umbilical antes de um minuto de vida, dentre outros fatores. Nesses casos, pode ser feita a suplementação de ferro já aos 3 meses de vida.

Como ter uma alimentação rica em ferro?

O leite materno é fonte essencial de ferro. Vale ressaltar a importância da amamentação exclusiva até os 6 meses e prolongada até os 2 anos de idade.

No primeiro ano de vida do bebê, há um crescimento muito acelerado, consequentemente, uma necessidade maior do mineral. Sendo assim, na fase de introdução alimentar, por volta dos 6 meses, é fundamental investir em alimentos que sejam fonte de ferro, além de alimentos que podem melhorar sua absorção. Como no início da alimentação as crianças costumam comer pouco, é comum que pediatras indiquem a suplementação. 

Na alimentação, o ferro pode ser encontrado em 2 formas: o ferro heme, que é melhor absorvido pelo organismo, e o ferro não heme, que é absorvido em taxas mais baixas.

O ferro heme é encontrado nos alimentos de origem animal, como carne vermelha, frango, vísceras e outros. 

O ferro não heme, por sua vez, está nos alimentos de origem vegetal, como feijões, ervilha, lentilha, grão-de-bico etc. Além disso, é possível encontrá-lo nas folhas verde-escuras, como couve, agrião, talo de brócolis, espinafre e outros.

Mitos e verdades sobre o consumo de ferro na alimentação infantil

Existem alguns mitos relacionados à ingestão de ferro. Aqui, selecionei e respondi as principais dúvidas que recebo no consultório: confira!

Afinal, beterraba é fonte de ferro?

MITO. Embora a beterraba seja até recomendada em algumas receitas caseiras de combate à anemia, de acordo com a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TBCA), 100 gramas de beterraba crua têm apenas 0,32 miligramas de ferro.

A recomendação diária de ingestão desse mineral é em torno de:

  • 11 mg para bebês de 7 a 12 meses
  • 7 mg para crianças de 1 a 3 anos
  • 10 mg entre 4 e 8 anos
  • 8 mg dos 9 aos 13 anos

Ou seja, teria que comer MUITA beterraba para alcançar uma quantidade significativa de ferro do ponto de vista nutricional a partir desse vegetal.

É claro que isso não quer dizer que a beterraba não seja rica em uma série de outros nutrientes, muito menos que deva ser excluída da alimentação das crianças. Ela contém manganês, fósforo, zinco, potássio, cobre e vitaminas A, B6 e C, além de proteínas e fibras. Só não dependa dela para garantir o ferro na alimentação de seus filhos, ok?

O leite de vaca integral NÃO deve fazer parte da rotina alimentar das crianças menores de 1 ano?

VERDADE. O leite de vaca integral (diferente da fórmula infantil) é pobre em ferro, além de não ter adequada proporção de proteínas, gorduras, vitaminas e minerais, podendo levar a sobrecarga renal e deficiências. Portanto, não deve fazer parte da rotina alimentar das crianças antes de 1 ano de vida. 

O consumo de leite de vaca integral é importante fator de risco para o desenvolvimento de anemia ferropriva em crianças nessa fase da vida. Estudos mostram que para cada mês de ingestão do leite de vaca dos bebês a partir dos 4 meses de vida houve diminuição de 0,2 g/dL nos níveis de hemoglobina da criança. 

Então, isso é assunto sério e não é mito não! No entanto, nos casos de impossibilidade financeira, o Ministério da Saúde sugere a introdução do leite de vaca sob supervisão de um profissional de saúde, para que se possa fazer a diluição adequada. Mas ressalto aqui que o melhor para o bebê é o leite materno, para que de fato a criança possa receber todos os nutrientes necessários.

O cálcio pode inibir a absorção de ferro?

VERDADE. Alimentos ricos em cálcio, como leite, iogurte, queijo, entre outros derivados, competem com o ferro na hora da absorção no organismo, por terem estruturas químicas muito semelhantes. Como os dois nutrientes são essenciais, o ideal é que sejam consumidos em refeições diferentes.

Ferro: quanto mais melhor?

MITO. Muito cuidado, pois, quando consumido em excesso, esse nutriente pode interferir na absorção de outros minerais importantes, como o zinco, por exemplo. Além disso, estudos mostram relação entre a sobrecarga de ferro com o desenvolvimento de câncer. Então, fica o alerta inclusive do consumo acidental por crianças que fazem uso de suplementos de ferro, pois ele pode causar intoxicação.

Devo oferecer frutas ricas em vitamina C para melhorar a absorção do ferro?

VERDADE. Frutas ricas em vitamina C, como laranja, limão, morango, tangerina e acerola, podem contribuir para a absorção do ferro não heme presente em alimentos como feijão e folhas verde-escuras.

É importante garantir a oferta de alimentos ricos em ferro nas refeições principais: assim, a vitamina C presente nas frutas pode fazer a parte dela e ajudar na absorção. Mas cuidado com a quantidade de frutas oferecidas como sobremesa, pois é comum crianças recusarem a refeição principal na espera pelo doce.

Devo oferecer fígado para garantir ingestão de ferro na alimentação infantil?

MITO. Você provavelmente já ouviu frases como “Está com anemia? Precisa comer muito fígado!” Afinal, no passado era o que se fazia. 

No entanto, devemos nos atentar à seguinte informação: o fígado é o órgão onde são filtradas toxinas do organismo, sendo assim, armazena grande parte dessas substâncias. 

Ou seja, se na criação de gado eles são expostos a antibióticos, vacinas, pesticidas para o capim, hormônios etc., logo, consumir fígado definitivamente não é a melhor opção. 

Vale aqui o alerta para a procedência da carne na hora da compra, dando preferência para criação de animais livres dessas substâncias.

Suplementação de ferro pode ocasionar intestino preso nos bebês?

VERDADE. Suplementação com compostos ferrosos pode ocasionar efeitos colaterais gastrointestinais, sendo comum na prática clínica receber bebês constipados (intestino preso). Converse com o pediatra e nutricionista para avaliar se a constipação tem relação com a alimentação do bebê ou é um efeito colateral da suplementação com ferro.

Leia também:

O BLW pode levar ao consumo inadequado do ferro?

VERDADE. Existem estudos que avaliaram que BLW (Baby Led Weaning), ou desmame guiado pelo bebê, pode acarretar em um baixo consumo de ferro durante as refeições. 

Essa é uma abordagem que estimula a autonomia do bebê ao introduzir os alimentos sólidos em  edaços/cortes apropriados para que ele coma com as mãos. Para que a criança segure e leve o alimento à boca, os pedaços são menores e a quantidade de alimento oferecido também tende a ser. 

Além disso, uma vez que nessa fase os bebês exploram o alimento sólido, mas não conseguem ingeri-lo com facilidade (ex.: chupam a carne, mas não a engolem), o consumo de ferro é ainda menor. Isso porque sem a ingestão direta a criança acaba “sugando” o sabor e os nutrientes de forma mais superficial durante essa exploração. 

Uma alternativa a isso é uma versão de BLW chamada Baby-Led Introduction to Solids (BLISS), que significa Introdução aos Sólidos Guiada pelo Bebê e é um mix da alimentação tradicional, em que o bebê recebe a comidinha amassada na colher (evoluindo sua textura ao longo dos meses), e também a recebe em cortes apropriados para evitar risco de engasgo, como na abordagem BLW. 

Com essa versão, o bebê tem a oportunidade de explorar o alimento e também de ingerir a quantidade necessária desse importante mineral. Mas vale ressaltar que, ainda assim, não existem estudos científicos suficientes para justificar que o BLISS seja a única forma correta de introdução alimentar.

Criança vegetariana desenvolve anemia por falta de ferro na alimentação?

MITO. É possível receber a quantidade de ferro na alimentação infantil vegetariana. Inclusive, vem crescendo muito o número de famílias que querem diminuir o consumo de proteína de origem animal, devido aos inúmeros estudos sobre os malefícios do excesso da ingestão desses alimentos.

No entanto, vale ressaltar a importância do acompanhamento nutricional para evitar não só a deficiência de ferro, mas de vários outros nutrientes, como cálcio, zinco, ômega 3 e vitamina B12, que são fundamentais em uma fase tão importante de crescimento e desenvolvimento. Qualquer restrição alimentar na infância deve ter acompanhamento de um profissional da área da saúde.

Agora que você já aprendeu um pouco mais sobre os mitos e verdades do ferro na alimentação infantil, não deixe de compartilhar essas informações tão importantes. E fica o meu convite para aprender um pouco mais sobre nutrição na infância e sobre como fazer seu filho comer bem clicando aqui:

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