Pré-adolescência: entender para acolher a fase de transição
A pré-adolescência pode ser um mistério para muitas mães, pais, cuidadores e, claro, para os próprios pré-adolescentes.
Um dia, sua criança responde calmamente: “não quero, mãe…”, no outro, dispara um ríspido “tô nem aí!” e fecha a porta do quarto. Mudança de personalidade? Não, não! É só a pré-adolescência dando um sinal de que está na área.
É uma época em que “já não se é mais criança, mas ainda não se é adolescente”. Parece complicado, né?
Mas também tem coisa boa: é quando as não-tão-crianças começam a se interessar mais por assuntos do nosso universo adulto. Política, cidadania, sentimentos, música, moda, entre tantos outros temas, podem render “altos papos”. É um novo mundo que se abre!
Quer entender um pouco mais sobre pré-adolescentes? A gente explica!
O que é pré-adolescência, afinal?
O nome já revela o significado: a pré-adolescência é a fase de preparação para a adolescência. É tanta mudança que está por vir, que ter um estágio de transição é
uma ótima ideia – para as crianças e para a família.
A pré-adolescência é uma fase marcada pelos primeiros indícios de crescimento corporal de meninos e meninas.
Mas ela vai muito além das mudanças físicas: é quando começa o amadurecimento emocional e o desprendimento da infância.
Trata-se de um conceito subjetivo e que recebe diversas interpretações. Não existe um consenso sequer sobre a faixa etária que compreende a pré-adolescência.
Qual é a idade da pré-adolescência?
Olha só como a pré-adolescência é um período abstrato: o Ministério da Saúde, por exemplo, considera os ciclos da vida apenas como criança, adolescente, adulto e idoso.
Mas, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a pré-adolescência ocorre entre os 10 e 14 anos, aproximadamente. Enquanto a adolescência se dá por volta dos 15 aos 19 anos completos.
Tanto na pré-adolescência quanto na adolescência, é preciso considerar que o desenvolvimento de cada indivíduo é diferente.
O que importa é acompanhar as transformações.
Mudanças da pré-adolescência: cérebro a mil!
No livro Pré-adolescente: um guia para entender seu filho, a autora Daniela Tófoli explica que, dos 8 aos 12 anos de idade, passamos pela maior atividade cerebral da vida.
As conexões de neurônios são tão intensas que percebe-se até um aumento discreto no volume do cérebro. É quase como se o órgão entrasse em ebulição, de tanto trabalho, criando sinapses novas e podando aquelas que não lhe parecem úteis.
Pré-adolescentes ainda não têm o córtex pré-frontal desenvolvido. Na realidade, essa área se forma completamente por volta dos 24 anos.
Enquanto isso, o jovem não sabe muito bem como controlar seus impulsos e medir a consequência de seus atos. A pré-adolescência é só o início da aventura.
Também os hormônios fervilham na pré-adolescência. Além dos hormônios sexuais, há uma produção de mais receptores de ocitocina, conhecida como o “hormônio do amor”.
Pré-adolescência masculina
Para os meninos, o ápice da atividade cerebral acontece aos 12 anos.
Com relação aos hormônios, há maior estímulo na produção de testosterona nos testículos. A voz começa a mudar, há alargamento do tronco e do ombro e pelos aparecem em maior quantidade por todo o corpo.
A pele pode ficar mais oleosa, a transpiração aumenta e pode ter um cheiro mais forte.
Pré-adolescência feminina
Com as meninas, o trabalho mais intenso do cérebro é por volta dos 11 anos.
A produção de progesterona e estrogênio nos ovários aumenta, assim como a de vários outros hormônios.
Como resultado, o odor do suor, o aparecimento de acne, a oleosidade nos cabelos e os pelos pubianos e na axila também crescem.
O desenvolvimento dos seios começa e o quadril tende a se alargar. É comum que a menarca (a primeira menstruação) aconteça dois anos e meio após o início da pré-adolescência.
Os principais desafios da pré-adolescência para os pais
Percebeu quanta coisa acontece com os pré-adolescentes? Em meio a tantas mudanças, expectativas e desejos deles, os pais acabam diretamente afetados.
Entre os maiores desafios, estão:
Quando começa a pré-adolescência
O desafio já começa em ter que entender se o filho está ou não na pré-adolescência. Afinal, essa fase começa em idades diferentes para cada criança. Você vai notar que seu pequeno menino ou menina já não é tão pequeno assim.
Quem é esse rebelde no lugar do meu filho?
De repente, surgem as mudanças comportamentais, que podem fazer os pais se questionarem se realmente conhecem os filhos. Uma hora se trancam no quarto e não querem conversar. No momento seguinte, questionam todos os seus pontos de vista.
Há episódios de arrogância, argumentações sem fim, implicância, oscilações de humor, enfim, uma verdadeira montanha-russa causada pelo cérebro do pré-adolescente.
Aí começa outro desafio: ajudá-lo a se conhecer mais e compreender as próprias emoções. Com tantas transformações, um turbilhão de sensações pode surgir, como ansiedade, insegurança, dificuldade de foco, entre outras.
Cuidar do emocional do pré-adolescente
É importante ficar de olho na saúde emocional da meninada. Isso porque pode haver muitos conflitos internos, principalmente envolvendo identidade, aceitação e autoestima.
O pré-adolescente procura um distanciamento dos pais, às vezes sem perceber. Ele quer se livrar da imagem de criancinha que precisa dos cuidadores (embora a gente saiba que precisa).
É comum a busca por isolamento e refúgio, como as longas horas passadas no quarto. Continue até o final do texto para entender como lidar com cenas assim. 😉
Cuidar do emocional dos pais também
Mais do que compreender o próprio filho ou filha pré-adolescente, é preciso boas doses de autoconhecimento para saber como reagir nas situações inesperadas.
Na pré-adolescência, a imagem do pai como herói ou da mãe como heroína é colocada em cheque.
Por um lado, essa pode ser uma ruptura brusca. Por outro, pode ser um bom momento para os pré-adolescentes entenderem que os pais não são perfeitos. Eles também se cansam, se frustram e ficam confusos.
Pré-adolescência: como lidar? Veja 4 dicas
Bora para a parte prática?
Deixe seu filho errar
Às vezes, é bom deixar a superproteção de lado. A pré-adolescência é caracterizada pela impulsividade e nem sempre seus avisos serão suficientes para impedir que seu filho ou filha cometa um erro.
Então que tal exercitar a habilidade de diferenciar as escolhas que podem gerar aprendizados daquelas que ainda precisam de intervenção (uma que ofereça risco de vida, por exemplo)?
Compreensão e paciência em primeiro lugar
Não é rebeldia, é apenas imaturidade cerebral e vontade de conhecer o mundo.
Tente lembrar disso quando seu pré-adolescente der uma resposta daquelas de tirar do sério.
Mas você também é importante conversar sobre limites e confiança, afinal, a pré-adolescência não justifica o desrespeito.
Tenham seus próprios combinados: ler o diário da criança não pode, mas saber o que ela acessa nas redes sociais, sim, pois é uma questão de segurança.
Com diálogo, acolhimento e reflexão, vocês podem se entender mutuamente.
Ofereça estímulos afetivos e sociais
Lembra que a gente comentou sobre a busca por um desapego da infância?
Incentive seu pré-adolescente a se aproximar dos amigos e a ter sua própria turma.
Convide-os para uma festa do pijama em casa, uma tarde de estudos, um dia na piscina, idas ao cinema, um piquenique no parque...
O convívio com outros pré-adolescentes ajuda no estabelecimento de autonomia. É uma boa solução para a missão “tirar meu pré-adolescente do quarto por algumas horas”.
Incentive a busca pela identidade
Talvez sua menina não queira mais usar as roupas coloridas de sempre. Ou seu menino comece a ouvir música eletrônica. Em vez de questionar logo de cara, que tal ajudar o pré-adolescente a entender com o que ele mais se identifica?
Ter hobbies e praticar esportes pode contribuir com a jornada de autoconhecimento.
Filmes podem ajudar a entender a pré-adolescência
Sabe aqueles dias de cineminha na sala de casa? Esse é um bom momento para se conectar com seus filhos e ter reflexões importantes da pré-adolescência.
Uma dica é começar escolhendo um filme juntos. Se tiver personagens na mesma faixa etária que seu pré-adolescente, melhor ainda! Assim, ele pode perceber que muitos dos conflitos e emoções que está vivendo não acontecem só na casa de vocês.
Na conversa, depois do filme, não é preciso fazer associação direta com as experiências que seu filho está passando. Deixe-o falar livremente sobre o assunto e sobre os personagens. Isso já te dará uma boa noção de como ele lida com os temas.
Mas que temas? Ah, são muitas as possibilidades, e aqui é legal não ter tabus. Filmes que falam sobre as emoções, amizades, amores, conflitos familiares e até mesmo drogas e descoberta da sexualidade geram boas – mas não tão fáceis – conversas. Prepare-se e aproveite!
Você sabia que, para algumas crianças, a pré-adolescência começa aos 9?