A importância de se preparar para a adolescência do seu filho
Existe momento para se preparar para adolescência? Engana-se quem acha que recebemos um aviso prévio. Nananinanão.
Num dia é uma criança. No outro, você deixa de fazer sentido para ele, e os fones de ouvido parecem que foram colados na criatura. Ando com a desconfiança de que é para não me escutar mesmo.
Adolescente de poucas palavras
Tenho sentido silêncios mais longos. Após anos de trocas contínuas, agora preciso ser milimétrico para ser escutado. Pontual como um tweet, para garantir a atenção do meu público-alvo.
Anote aí: aprendi uma técnica há algum tempo. Em vez de “assim não dá, todos os dias a mesma coisa, não aprende nunca, meu Deus do céu, tira essa toalha molhada da cama!”, apenas: “toalha!”. E eles entendem, é incrível. E não nos desgastamos.
Seria ótimo manter um diálogo em que pudesse ouvir e dizer mais palavras, saber detalhes do seu dia, como estão as coisas na escola. Entretanto, será necessário me acostumar com essas respostas monossilábicas.
De toda forma, essa nova comunicação pode ser ao mesmo tempo boa e ruim. Agora não é mais preciso um discurso para ser entendido, uma palavra só basta para a comunicação acontecer.
Existe preparação para a adolescência?
Se não tem aviso prévio, se é de um dia para o outro, você poderia me perguntar: como a gente se prepara para isso? E a partir de quando?
Parecem perguntas complexas, mas ambas têm respostas simples.
A gente se prepara para a adolescência dos filhos já durante a gestação. Ou nas primeiras trocas de fralda. O primeiro banho é uma bela introdução à adolescência.
Assistir às apresentações da escolinha, ter longas conversas nas viagens de carro, sentar-se ao lado do filho para orientar a lição de casa. Ou as idas ao pediatra e ao teatro. Levar no barbeiro, na clínica de vacinas. Ter conversas difíceis aos 6 e aos 8 e meio. Dizer não tantas vezes. Dar risadas outras mais. Fazer curativo, pegar no colo, dar beijo, contar histórias. Brigar. Fazer as pazes.
Não está em bibliografia alguma, mas cada uma dessas pequenas vivências cotidianas carregadas de significado (tantas vezes ignorados) vai preparar a família para a adolescência. Prepara o pai, a mãe e o filho.
Porque os conflitos serão inevitáveis. E até bem-vindos. O que vai determinar o tamanho dos enfrentamentos será a história pregressa de vocês.
E vale para qualquer família, a qualquer momento. Nunca é tarde para começar a estabelecer uma relação mais saudável e afetuosa.
Com o tempo, captamos a essência dos desafios da parentalidade. E, se a jornada não fica mais simples, fica mais fácil reconhecer alguns caminhos. E evitar outros. Para mim, o segredo para chegarmos preparados para mais uma etapa fundamental do desenvolvimento das nossas crianças é reconhecer o que é melhor para a nossa trajetória enquanto a trilhamos.
Dizer que se trata de uma construção parece simplista, porém é exatamente assim que enxergo essa longa caminhada, do berço à adolescência. Impossível dissociar esses aprendizados. É a soma deles que cria o vínculo necessário para estarmos mais preparados para os desafios que virão.
A rebeldia é contra mim?
O adolescente vai se assustar com a necessidade de se “distinguir” dos pais. É nossa tarefa facilitar este processo. Mesmo que seja sofrido para nós. Algo que me ajudou muito foi perceber que não era um problema comigo.
Porque nós temos essa pretensão narcisista de achar que é tudo contra a gente. Não é. Confie em mim. A adolescência não é contra ninguém. É a favor deles. Ter essa compreensão traz alívio. Fica mais leve para eles e para nós.
Pare. Respire. Pense antes de entrar em conflitos
Pensando em facilitar minha vida, estabeleci algumas perguntas simples para aqueles momentos de conflito. Uma espécie de roteiro que compartilho na esperança de ajudar a tornar essa etapa bem mais divertida por aí também.
Mas, antes, é fundamental lembrar que você também já foi adolescente. Pais que esquecem disso prejudicam o bom andamento da adolescência dos filhos. Então, antes de surtar ou se apavorar com os comportamentos do seu filho, lembre-se: já tivemos essa fase.
Agora, sim, vamos às dicas:
- Essa discussão me diz respeito? Meu adolescente chegou me atacando gratuitamente? Tem fundamento o que ele está verbalizando? Feita essa avaliação, entre na conversa – ou não.
- Se você entrar na conversa, nunca siga no tom agressivo dele. É sua obrigação mudar essa vibração. Isso quebra a expectativa de confronto.
- Você não está num dia bom? Sabe que vai entrar na briga sem necessidade? Diga para o seu adolescente que agora não é um bom momento. Que você precisa de um tempo para si e mais tarde retomará a conversa. E retome.
- Precisa alinhar pontos importantes com seu adolescente? Perfeito. Mas não inicie a conversa criticando, julgando ou ameaçando. Você sabe que não vai dar certo.
- Exercite a escuta. Nós, adultos, temos uma mania irritante de não escutar crianças e adolescentes, porque nós sabemos tudo. Escute. Aprenda com seu filho.
- Não é verdade que tudo na sua época era melhor. Então, criticar as escolhas do seu adolescente por pura falta de empatia não vai levar a nada. Por outro lado, contar como era no seu tempo pode ser uma experiência divertida entre vocês.
- Saiba rir de você mesmo. Sim, contra o bom humor, às vezes os adolescentes perdem os argumentos.
- Entenda os silêncios do seu adolescente. Mas fique atento para os excessos.
- Quando todas as tentativas falharem, recomece. É cansativo, mas, como eu digo para meus filhos: é para isso que eu sou pago, educar vocês.
- Compreensão, empatia e acolhimento são fundamentais. Porém, se você não se sentir respeitado, deixe isso claro para o seu adolescente. Limites são ainda mais fundamentais neste contexto.
- Proponha algumas atividades para fazer com seu filho. Será cada vez mais difícil por um tempo, mas um jogo de cartas ou um jogo de tabuleiro sem nenhum amigo dele saber pode ser aquele momento que ele também precisa para estar com você “como nos velhos tempos”.
- Demonstre sempre seu amor. Só assim ele vai encontrar sua individualidade sabendo onde está seu porto seguro.
E para finalizar, deixo com vocês meu mantra: o desafio é grande, mas a vontade de acertar é maior.