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em fase de crescimento.

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Ninhos do Brasil + Carochinha Editora: Ninhos do Brasil se uniu à Carochinha Editora, selecionando histórias que auxiliam nas questões enfrentadas em diferentes fases. Confira!

Saudade dos filhos: as crianças foram viajar, e agora?

Samara Felippo SF
 Samara Felippo na piscina com suas duas filhas, todas sorrindo em um dia de sol.

Maternidade é lidar 24 horas com algo que você não sabe. Inclusive, lidar com a saudade dos filhos que estão longe.

Antes de qualquer coisa neste texto, eu preciso te falar: está tudo bem! Você não é obrigada a saber. Não sabemos! Ninguém ensinou, não tem cartilha. Erramos, tropeçamos, machucamos, somos machucados, caímos, levantamos… e ninguém ensinou também como lidar com a frustração de uma separação.

Já escrevi aqui nessa nossa rede sobre a separação pós-filhos, mas o que trago hoje é sobre o desapego de nossas crianças.

Não estou falando aqui em abandonar nossos filhos, ou não dar sempre o devido acolhimento, segurança e aconchego.

A hora do desapego

Ouço muito falar em “criação com apego”. Acho bonito e acredito também que é muito necessário nos primeiros anos de vida do bebê, mas hoje descubro cada vez mais o quanto isso nos machuca futuramente. 

Óbvio que aqui não é um robô falando e desligando a função “apego”, mas é possível trabalhar essa questão, entendê-la, saber seus limites e sua resistência. 

Desde que me separei, nunca tinha parado pra refletir sobre isso. Eu, em minha consciência, no fundo, já sabia – mas na prática é outra coisa. 

Costumo brincar com a frase “Além de não ser fácil, é muito difícil.” (Rsrs).

Estou falando de quando a vida te obriga a exercer a prática de deixar as crianças irem. No caso, quando precisamos nos afastar. 

Minhas filhas encaram a jornada de duas casas desde muito pequenas, então comecei a trabalhar quase que forçadamente em tentativas muitos falidas e doloridas das idas pro pai. 

E mais uma vez trago o recorte da minha maternidade, com minhas reflexões e dúvidas.

O pai delas, depois de um período, foi morar fora do Brasil, o que dificultou muito a minha relação com o desapego de deixá-las ir. Não era ali no vizinho, no outro bairro, ou ali num outro estado. Era fora do país!

Leia também:

O que estou aprendendo com a saudade 

Quando Ninhos do Brasil propôs esse tema, a primeira coisa que fiz foi ir atrás dos posts antigos que eu fazia, de quando quase tinha um AVC na ida delas pro pai. De verdade! 

E o mais cômico nisso tudo era como cada post era parecido um com o outro, quando eu trazia expressões como: angústia, dor, estranheza, vazio, solidão. 

Ao passar dos anos, com mais experiência e maturidade, fui adicionando as palavras liberdade, autoamor, descanso, autonomia, foco…

Trouxe pra vocês trechos dos meus posts para ilustrar bem a aflição que há entre liberdade X apego. 

Num dos primeiros que achei, eu trazia não só a angústia de estar longe delas, mas também o medo de estar somente comigo:

“E as férias chegaram... e elas se foram. Eu sabia que esse dia ia chegar e quanto mais ele se aproximava, mas eu pensava ‘preciso curti-las, preciso curti-las’. Eu, que já sugo tudo o que posso dessa maternidade louca, exaustiva, contraditória e cheia de culpa. Maternidade que me fez pensar em me enxergar. Já pensaram como é difícil e doloroso se enxergar?  Maternidade que me fez abdicar de tantas coisas que amo por elas. Maternidade que suga. Emocional e fisicamente. Tô agora em Guarulhos, acabei de embarcá-las para ficarem com o pai, o que é tão importante para elas e pra ele, e a mistura de sentimentos é tanta... mas tanta, que chego a pensar que sou louca. Desesperada por ficar tanto tempo sem elas... por ter liberdade, por não saber lidar com essa liberdade, por estar chorando de saudade, por doer no coração, porque choro quando dói, sou assim e saudade DÓI. Sinto falta delas, do cheiro e até do barulho. Vou passar a data tão socialmente imposta pela sociedade como ‘família’ sem elas, mas tudo bem. Vou passar Natal e Ano Novo sem elas. Pra mim, agora, é só uma data. Mesmo. O amor tá aqui!!! Estarei comigo. Eita. Que medo. Faz tempo que não fico comigo. Logo eu que disserto tanto sobre estar consigo mesmo.  Por achar uma roupa, um arco, um prendedor de cabelo e sofrer, por pensar que não estarei lá quando elas sentirem medo, chorarem, se machucarem…e ao mesmo tempo feliz por ter essa liberdade, poder fazer o que quiser, a hora que eu quiser. Que esquisita essa sensação. Tenho certeza que não sou a única. Muitas lerão e se reconhecerão. Sei que estão bem, sei que voltarão, mas agora tenho que voltar a lidar comigo, e isso é tão angustiante mas tão necessário. Boa viagem, minhas meninas! Espero vocês cheia de amor.” 

A cada novo post, vinha algo parecido e os anos foram passando: 

Tenho toda a liberdade do mundo, mas não tenho a liberdade emocional. Se elas estão com frio, comendo bem, se divertindo, dormindo tranquilo, tendo pesadelos, se caíram e ralaram o joelho, se ardeu, se estão cuidando daqueles cachinhos. Óbvio que eu sei que elas estão bem, estão agasalhadas, estão se divertindo, dormindo bem, estão com o pai que elas amam e as ama, mas cara, dói no coração a ausência dessas criaturinhas. Como cabe tanto amor aqui? É o amor que nos faz passar por tudo, até mesmo situações traumáticas da maternidade, e esquecer depois. Sim, elas estão bem. Eu estou bem, já dancei, namorei, enchi a cara, cantei, abracei meus amigos, fiz fogueira… Elas vão voltar, eu sei. Eu to curtindo, mesmo que tenha um buraco do tamanho de Júpiter aqui. Tenho certeza que se elas estivessem comigo agora, eu estaria rezando pras férias acabarem e elas irem logo pra escola, só que estou rezando pras férias acabarem e elas voltarem pra mim! 😬 E esse sentimento faz sentido na maternidade sensível, deliciosa e caótica!

Pra ler depois:

Eu precisava escrever pra dizer pra mim mesma que aquilo fazia parte do processo de conexão com o pai e do crescimento delas. 

Eu escrevia pra me curar, e faço isso até hoje. Até porque era incontável o número de mães que compartilhavam do mesmo sentimento. 

Neste post aqui, eu lembro que recorri à minha rede de apoio – não para os filhos, mas para mim. Depois que entreguei elas para viajarem com o pai, corri pra minha amiga. Não lembro de conseguir curtir: eu só precisava chorar. 

“Sobre os filhos saírem de perto, sobre você ainda não saber como lidar com a liberdade, sobre o silêncio perturbar mas às vezes ser uma dádiva, sobre só chorar, pura e involuntariamente, sobre querer amor de quem você ama, sobre querer encher a cara até o dia raiar, sobre querer colo, sobre chegar e ser feliz ali, se reconhecer, aprender, ser ouvida... Chorei, chorei, chorei, bebi, falei, falei, lamuriei, ri, sim, em alguns momentos. Mas chorei, era mais forte que eu, elas tinham acabado de ir... corri pra ela e ela tava ali... sim, ela está ali coçando o olho. Então... vc é amigo/a de alguma mãe? 😬 Alguém tem cimento pra tapar o buraco de saudade que tá bem no meio do meu peito? Mamãe tá esperando vocês! ❤” É difícil com eles, mas é bem pior sem eles! 😩💕”

Respeitar a liberdade e as escolhas das crianças

E isso não vai acabar, nunca. Sei que talvez um dia elas queiram morar com o pai, porque ele mora nos EUA, e isso poderia ser uma “ameaça” pra mim. Mas também sei que é a liberdade delas, escolhas, novas oportunidades. Não é justo podá-las com meu apego como mãe. 

Temos que tomar muito cuidado com o apego seguro e o nocivo. Não é errado ter apego, errado é, além de não nos olharmos como mulheres para além de mães, não olharmos para a felicidade deles, porque esse amor muitas vezes nos cega.

Dói não dar o beijo de boa noite, dói achar um sapatinho ou aquele brinquedo favorito jogado, dói não sentir o cheiro, a gente sente falta até das brigas! Mas precisamos trabalhar esse desapego, quero um relacionamento saudável e equilibrado com o pai e também com a madrasta. E agora, por aqui, novas irmãs. 

Sei que muitas de nós trazemos o ciúme dessa nova mulher que ocupa espaço na vida deles, e outra vez digo: cada um tem seu recorte de maternidade e divisão dos filhos. 

Quero que essa mulher ame e cuide das minhas filhas com todo o carinho, ela será parte da família delas. 

Quantas reflexões, né? São muitas incertezas também. A mensagem que fica é a mesma do começo deste texto: ninguém tem a receita certa para ser mãe e a saudade dos filhos é apenas uma das avalanches de sentimentos que vivemos nessa jornada.

Cabe a nós experimentar essas sensações e entender que, por mais que a partida seja dolorida, podemos aproveitar o momento de conexão conosco. E, claro, não há nada como o reencontro quando eles voltam cheios de novidades e saudade.

Você se identificou com este texto ou quer compartilhar alguma experiência sobre a maternidade?

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