Como recebi o diagnóstico de TDAH do meu filho
Receber o diagnóstico de TDAH de um filho não está no script da maternidade. Sonhamos e idealizamos muitas coisas, mas nunca paramos para pensar na hipótese de qualquer diagnóstico que seja.
Lembro-me que, quando meu primogênito nasceu, a alegria tomou conta de mim – fui mãe aos 23 anos e sempre sonhei com esse momento. Tudo novo, inúmeros desafios, mas nada tirava do meu coração a festa de receber um filho.
Naquela época, eu já atuava na área da Educação havia cinco anos, e amava observar o desenvolvimento dele. Mas, com o passar do tempo, percebi o quanto me sentia exausta. Já sabia que seria assim, mas tudo parecia mais intensificado. A maternidade atípica parece três vezes mais desafiadora do que uma maternidade típica.
“Mamãe, meu cérebro não para” – quando percebi que tinha algo diferente no meu filho
Comecei a notar, então, alguns comportamentos diferentes em comparação com as outras crianças. Eu sabia que comparar não era o ideal, afinal, cada criança tem seu ritmo e tempo, mas eu sabia o que correspondia e o que não estava de acordo para sua idade.
Sempre muito “enérgico”, meu filho me colocava a pensar se estava realmente tudo bem com o desenvolvimento dele. O tempo foi passando e eu pensava que talvez fosse exagero meu achar que algo não estava certo. Aos 3 anos, ele olhou para mim e disse: “Mamãe, meu cérebro não para, ele fica assim ó: shhhhhh”, como se fosse o barulho de uma TV ligada o tempo todo.
Aquilo me deixou intrigada, e eu sempre pensava nessa fala. Somente aos 10 anos veio o diagnóstico: TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade. O que era isso?
Apesar de ser uma professora/pedagoga atuante, eu não tinha ideia do que poderia representar esse transtorno na vida dele. Até hoje famílias me procuram no consultório sem saber sobre o TDAH, o que isso afeta no desenvolvimento, quais são os maiores sintomas e como ajudar nesse processo.
Me descobri mãe de uma criança com TDAH
Dali, eu passei a estudar o TDAH como nunca! Artigos, cursos, vídeos, livros… tudo o que poderia me ajudar a entender como agir com mais assertividade nessa caminhada. Quando a gente recebe um diagnóstico, é como se fosse um luto.
Andréa Werner, do Instituto Lagarta Vira Pupa, fala sobre isso: “o luto pelo filho idealizado”, aquele filho que a gente planejou, que imaginou, e de repente se depara com uma estrada diferente.
Você se pergunta o tempo todo se vai mesmo conseguir trilhá-lo. É um desafio ser mãe de uma criança com TDAH. Há momentos em que a sobrecarga é tão grande, que pensamos: “E agora, pra onde eu vou? O que faço?”.
Leva um tempo para entender o diagnóstico quando o recebemos. Parece que a mente fica fazendo download e demora um pouco até a ficha cair. Porém, de uma forma inexplicável, após o diagnóstico, renasce uma mãe capaz de tudo pelo filho, ainda mais do que já era.
TDAH e as potencialidades de cada criança – e família
Conheço mães que começaram a estudar Pedagogia ou Psicopedagogia por querer entender melhor o processo de desenvolvimento do filho e ajudá-lo.
Eu sempre digo que “não é um mar de rosas”, não dá para romantizar. Mas também não há dúvidas de que tomamos isso como uma missão: conscientizar e ajudar as pessoas a compreenderem cada vez mais, para que possam respeitar a neurodiversidade e valorizar as potencialidades que toda pessoa com TDAH tem.
Afinal de contas, não se pode resumir alguém com TDAH a alguém desastrado, inquieto e desatento, mas podemos também enxergar a criatividade e inteligência de cada um.
Eu sempre digo que "diagnóstico não é o fim, mas o ponto de partida": ter o diagnóstico do meu filho em mãos me fez alçar voos ainda mais altos junto com ele. Passei a alcançar mais famílias que precisam compreender o TDAH e a neurodiversidade para trilhar um caminho de desenvolvimento.
E o meu filho, ah, ele voa! Eu já sabia de suas potencialidades, e hoje o incentivo cada vez mais, apoiando seus sonhos e projetos, porque ter TDAH não "limita" ninguém: apenas nos leva a olhar tudo à nossa volta por outros ângulos.